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Uma experiência de educação para os media no 1º ciclo do ensino básico

A experiência protagonizada por uma turma do 4º ano da Escola EB1 de S. João do Souto (Braga) no passado mês de Março, no âmbito da Semana dos Media na Escola, ilustra bem como a escola pode ser um espaço de educação para os media e, como tal, de educação para a cidadania.

Segundo a UNESCO, ?a Educação para os Media constitui parte da preparação básica de todo o cidadão, em qualquer país do mundo, em ordem à liberdade de expressão, ao direito de informação e representa um suporte na construção e sustento da vida democrática? (Áustria, 1999, conferência ?Educar para os Media na Era Digital?). Neste sentido, a sensibilização e formação de professores neste domínio, a atenção ao que se passa no pequeno ecrã e à relação das crianças com os media, podem fazer da escola ?o lugar mais capaz de influenciar o modo como as crianças vêem televisão e o que vêem?, como refere Patrícia Greenfield.
A experiência protagonizada por uma turma do 4º ano da Escola EB1 de S. João do Souto (Braga) no passado mês de Março, no âmbito da Semana dos Media na Escola, ilustra bem como a escola pode ser um espaço de educação para os media e, como tal, de educação para a cidadania. Antes de mais, esta experiência, que descreverei mais à frente, foi uma excelente oportunidade para as crianças partilharem sentimentos, ideias e opiniões, para confrontarem os seus pontos de vista com os dos outros e para comunicarem vivências que as gratificam do ponto de vista emocional, social e afectivo. Contribuiu, de igual modo, para o desenvolvimento de capacidades criticas em relação às mensagens dos media, no que se refere à sua forma e conteúdo. Através da produção de mensagens de vários tipos, as crianças aprenderam a comunicar ideias próprias e experiências pessoais e de grupo, aprenderam a conceber e a produzir os seus próprios produtos mediáticos.
Orientadas por uma professora que sabe ensinar para além do estipulado e que sabe conciliar criativamente as áreas curriculares com as vivências e motivações dos alunos, as 26 crianças que constituem aquela turma trabalharam na produção de programas de televisão a serem exibidos num canal também criado por elas. Sem dúvida que o momento de ?emissão?, para toda a comunidade educativa, foi o ponto alto da actividade, em que as crianças sentiram o nervosismo e a excitação de verdadeiros produtores. Todavia, a avaliar pelo que foi apresentado, o processo de produção terá sido aquele em que se produziram as aprendizagens mais significativas. O Canal SJS incluía uma diversidade de programas, como qualquer canal de qualidade: informação, debate, variedades e até publicidade. Num ecrã construído pela turma num ano anterior, uma criança dava início ao ?telejornal? com a apresentação de notícias elaboradas pelas próprias crianças e até com reportagens a partir do ?exterior? em que uma ?repórter? entrevistava ?a pequenada?. Seguiu-se um programa de debate, com dois apresentadores, devidamente equipados com os seus cartões de apresentação, que foram chamando os seus convidados para debater a própria semana dos media e os projectos da turma, entre outros assuntos. No intervalo surgiu a publicidade constituída por spots construídos (e desconstruídos) pelos alunos relativos a produtos inventados pelos próprios. Houve ainda lugar a variedades, com música e dança (actuações das próprias crianças).
Foi interessante verificar o cuidado colocado em todos os pormenores, o que revela um bom espírito de observação e de análise de alunos e professora. Não faltou, por exemplo, o cameraman nem o fotógrafo (papéis desempenhados por dois alunos).
Para a realização destas actividades professora e alunos mobilizaram estratégias que permitiram desenvolver aprendizagens activas, significativas, diversificadas, integradas e socializadoras, tal como preconiza o Programa do 1º Ciclo do Ensino Básico. Além do mais, foram também desenvolvidas, em integração entre si, as diferentes áreas curriculares deste nível de ensino.
O que acabámos de expor reveste-se de particular importância para mostrar que a educação para os media pode não significar apenas mais uma tarefa para os professores, nem ?retira? tempo ao cumprimento do programa. A realização de actividades com e através dos media pode enriquecer e tornar mais interessante o processo de ensino-aprendizagem, sem perder de vista que uma educação a este nível visa contribuir para um uso crítico e criativo dos media, em que o objectivo não é apenas o desenvolvimento da consciência crítica mas igualmente da autonomia crítica dos sujeitos, e que envolve quer a compreensão das práticas mediáticas diferenciadas, as interacções, as motivações e expectativas que as determinam (e pelas quais são determinadas), quer a compreensão dos media como uma realidade socialmente construída, isto é, a compreensão de que o trabalho dos media é, por natureza, um trabalho de construção, de representação, de selecção, de hierarquização ou seja, de construção social.
A actividade descrita integra um quadro mais amplo de experiências neste domínio, nomeadamente, a produção de um jornal de parede de turma e de um jornal impresso de escola que foi premiado pelo concurso de jornais escolares promovido pelo Projecto "Público na Escola".
Ao terminar gostaria de deixar uma palavra de reconhecimento a todos os professores que já incluem a educação para os media nas suas práticas educativas e uma de incentivo a todos os outros.


  
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

Sara Pereira
Universidade do Minho
Sara Pereira
Universidade do Minho

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