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Palavras situadas

Partindo da relevância que as práticas de literacia têm nas nossas sociedades, procurar-se-á, privilegiando um olhar que as inscreva em práticas sociais mais vastas, descrever, analisar, clarificar os múltiplos significados que elas revestem.

Vivemos rodeados de palavras escritas. Alguns daqueles que agora lêem este texto tornaram-nas objecto principal do seu trabalho, outros não podem prescindir delas como forma de aceder a ou de construir mundos possíveis, outros, ainda, adoptam-nas como modo significativo de construção de relações com os outros.
Duma ou doutra forma, as palavras escritas cruzam a nossa vida, constroem-na, regulam-na. Razão fundamental esta para pensarmos sobre elas, sobre os seus usos, sobre os significados que lhes associamos.
Acontece que para muitos de nós, diria, para a esmagadora maioria de nós, a chegada ao mundo das palavras escritas foi feita nesse lugar indissociável da própria palavra escrita que a escola é. Essa chegada a um mundo que, para uns, se transformou em residência permanente e, para outros, em lugar de habitação transitória significou experiências felizes, mas também provações várias. Aí fomos descobrindo (outros, entretanto, não o puderam fazer) a força e o peso das palavras escritas. Com elas aprendemos coisas, exprimimos discordâncias, fomos conduzidos, recriámos o mundo.
Razão adicional, esta, para se pensar sobre os sentidos que as palavras escritas ganham na escola, sobre as formas como elas aí aparecem, sobre os sentidos de que são investidas por aqueles que as produzem, sobre a forma como aí são apropriadas e como, com elas, são alguns desapropriados de si.
Mas este jogo em que nos envolvemos com as palavras escritas não terminou ali, no momento, em que enquanto alunos abandonámos a escola. Depois, em muitas outras circunstâncias, também em situações educativas, continuaram as palavras escritas a rodear-nos, de tal forma que, num certo sentido, se torna difícil pensar a vida, e pensar o social, sem que se pense em simultâneo os usos das palavras escritas.
Razão decisiva, pois, para olhar reflectida e integradamente as palavras escritas e a educação, a educação e (uso agora uma expressão que aqui aparecerá frequentemente) as literacias.
É este o programa que este 'grupo de escrita' que «a Página» agora passa a acolher se propõe cumprir. Partindo da relevância que as práticas de literacia têm nas nossas sociedades, procurar-se-á, privilegiando um olhar que as inscreva em práticas sociais mais vastas, descrever, analisar, clarificar os múltiplos significados que elas revestem.
Para já, este grupo será constituído, para lá do autor deste primeiro escrito, por Maria de Lourdes Dionísio, da Universidade do Minho, e António Branco, da Universidade do Algarve. A estas vozes, outras se virão juntar, garantindo-se, na sua diversificação, a variação de problemáticas e de olhares.
Desejam os membros deste grupo manifestar, desde já, a sua disponibilidade para responder a interpelações dos leitores. Como forma, também, de explorar novos caminhos com as palavras.


  
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Edição:

N.º 156
Ano 15, Maio 2006

Autoria:

Rui Vieira de Castro
Universidade do Minho
Rui Vieira de Castro
Universidade do Minho

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