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Agressões cometidas sobre docentes nos últimos dez anos em França

Uma agressão cometida no fim de Janeiro contra uma professora do colégio Lenain-de-Tilmot, em Montreuil, no distrito de Seine-Saint-Denis, em França, foi mais uma a juntar-se a muitas outras agressões de que foram vítimas docentes nos últimos dez anos em França. Lembremos alguns casos divulgados pela France Press.

Em 15 de Junho de 1996, uma professora de 31 anos foi agredida por golpes dados com um taco de basebol por um aluno que a esperou à saída de um liceu em Villeneuve-la-Garenne.
Em 18 de Agosto de 1996, um professor de inglês do liceu de Dax, em Landes, entrou em estado de coma irreversível depois de ter sido agredido por um seu aluno e um amigo deste. Morreu alguns dias mais tarde. O seu agressor, um rapaz de 19 anos, considerava o professor responsável por lhe ter sido aplicada a pena de expulsão da escola durante uma semana.  Aluno e cúmplice foram condenados a 10 anos de prisão.
Em 14 de Outubro de 1997, uma professora de artes plásticas, da escola de Salon-de-Provence, deu ordem de expulsão a um aluno da 5.ª classe. O aluno reagiu à ordem empunhando e disparando uma pistola na direcção da professora. Errou o alvo. O aluno foi expulso da escola.
Em 20 de Maio de 1998, um professor de educação física duma escola de Cergy foi agredido duas vezes no mesmo dia por um aluno que ele tinha expulso da aula. O aluno agrediu-o a murros durante a manhã e voltou à carga durante a tarde, armado com uma faca e acompanhado por mais três amigos armados com barras de ferro. O professor, protegido por outros alunos, ficou apenas ferido.
Em 26 de Outubro de 1999, um professor duma escola profissional em Dunkerque, no recreio da escola, foi atingido com um martelo, na parte de trás da cabeça, depois de se ter esquivado a um golpe dirigido à face. O aluno, autor da agressão, foi condenado a quatro anos de prisão efectiva.
Em 8 de Dezembro de 2000, um professor de espanhol de uma escola de Seine-et-Marne foi ferido nas costas, por golpes de uma faca empunhada por um dos seus alunos, de 13 anos de idade, enquanto escrevia no quadro.
Em 11 de Janeiro de 2001, um professor de uma escola de Tourcoing foi ferido à facada por um seu aluno a quem o docente havia repreendido por aquele chegar sempre atrasado.
Em 24 de Outubro de 2001, um adolescente de 16 anos foi acusado de «tentativa de homicídio» por ter tentado atitar para o vazio, da varanda de um 4.º andar, um seu professor.
Em 7 de Janeiro de 2003, uma professora de matemática de 30 anos de idade, de um liceu profissional de La Garenne-Colombes, foi ferida à facada, depois de ser fechada numa sala de aula, por um aluno de 16 anos. O aluno foi mais tarde condenado a seis meses de prisão efectiva.
Em 5 de Junho de 2003, a uma centena de metros de uma escola de d?Aulnay-sous-Bois, onde ensinava, um professor de História, de 28 anos de idade, foi agredido com golpes aplicados com tacos de basebol empunhados por seis ou sete jovens desconhecidos.
Em 26 de Setembro de 2003, o director de uma escola de La Ciotat, no pátio da escola, foi mortalmente atingido por uma facada. A investigação a este assassinato ainda continua em curso.
Em 16 de Dezembro de 2005, na escola profissional Louis-Blériot, um professor de artes plásticas foi ferido a murro, no interior da sala de aula, por um dos seus alunos. O inquérito ao aluno ainda continua.
Em 16 de Janeiro de 2006, uma professora do liceu profissional de Vitry-Sur-Seine foi agredida por um adolescente de 16 anos, no exterior da escola. O aluno está sob inquérito.
Em 17 de Janeiro de 2006, um professor de inglês da escola Travail, em Bagnlet, foi agredido por um aluno da 6.ª classe que se havia introduzido na sua sala de aula. O aluno foi suspenso.
Estas são algumas das agressões cometidas por alunos contra professores em escolas francesas na última década e têm um ponto em comum, são agressões cometidas por rapazes. As agressões físicas cometidas or discentes entre si são da ordem das centenas por ano. Esta é uma realidade comum à escola que se massificou sem se ter transformado. O ambiente escolar parece assemelhar-se cada vez mais ao que caracteriza o ambiente prisional. Também nas prisões a violência entre presos é maior do que a cometida sobre as autoridades prisionais. Nas prisões e nas escolas os presos e os alunos organizam e disputam um poder próprio.
O problema da violência em meio escolar exige estudo atento. Por um lado porque é necessário entender as causas e perceber o que leva crianças, adolescentes e jovens a cometerem actos violentos num espaço que se supõe ser de educação. Por outro lado porque é preciso perceber o que é necessário mudar para que a escola aberta a todos seja lugar de estudo e não mero espaço de distracção e violência. Pode o sistema escolar continuar a ser o que é? Os espaços de aprendizagem devem ser organizados de outra maneira?
Em Portugal, ao invés de estudarmos a nossa realidade e de pensarmos outros caminhos, preferimos copiar e importar acriticamente as práticas alheias, mesmo quando o resultado de tais práticas está à vista. Por causa do nosso atraso e da nossa posição periférica em relação à Europa, tudo nos chega cá com atraso, mas chega. E a violência escolar também chegará a não ser que experimentemos trabalhar cooperativamente escolhendo a criatividade em vez da cópia e da imitação.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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