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Alguns dados sobre esperança de vida, violência e educação

Relatório sobre o desenvolvimento humano 2005

A esperança média de vida no mundo foi, em 2005, de 67,1 anos. Em 1975, trinta anos antes, era de 59,9. Nos países em desenvolvimento era de 55 anos em 1990 e é hoje de 65. Estas médias escondem enormes assimetrias. No Japão a esperança média de vida é de 82 anos, Hong Kong 81,6, Islândia 80,7 e Suíça 80,5. Mas, por exemplo, na Zâmbia uma criança tem hoje menos probabilidades de ultrapassar os 30 anos do que uma criança nascida em Inglaterra em 1840. A esperança de vida neste país é de 36 anos e na Suazilândia não vai além dos 32. No mundo industrializado o mais alarmante passa-se na Rússia que de uma esperança de vida de 70 anos em 1990 baixou agora para os 65 anos. O relatório considera que as mudanças na Rússia nos últimos 15 anos provocaram o desaparecimento de 7 milhões de homens. O genocídio não está apenas na ponta das espingardas, está também nas políticas que os governos e o poder mundial adoptam.
No século XX perderam a vida em guerras 109 milhões de pessoas. Três vezes mais do que nos quatro séculos anteriores. Por cada euro investido na ajuda humanitária os países investem dez em gastos militares! Os Governos do G-7 (países mais industrializados) gastam, pelo menos, quatro vezes mais com a actividade militar do que com o desenvolvimento. Os EUA investem 25 vezes mais na guerra e na violência do que na ajuda humanitária e no desenvolvimento. O relatório destaca a necessidade premente de a comunidade internacional controlar o comércio de armas ligeiras, que causam uma morte por minuto (500.000 ao ano).
Um dos indicadores do desenvolvimento está relacionado com a sobrevivência das crianças. Quanto menos desenvolvido é um país maior é a mortalidade infantil. Uma em cada cinco pessoas que perderam a vida em 2002 (57 milhões) era uma criança com menos de cinco anos. Morre uma criança em cada três segundos. Quatro milhões faleceram no primeiro mês de vida e destas três em cada quatro morreram na primeira semana de vida. Quase todas estas vitimas ocorreram em países pobres. As condições de sobrevivência das crianças de 1990 para cá são inferiores às que existiam na década de oitenta. As técnicas e os conhecimentos médicos evoluem extraordinariamente e, no entanto, as políticas dominantes no mundo fazem com que este em vez de evoluir regrida.
A sobreexploração que é exercida sobre a África, em conjugação com maus governos, torna a vida neste continente cada vez mais precária. A taxa de mortalidade infantil era, em 1990 na África, 12 vezes maior do que nos países ricos, mas agora é 29 vezes mais alta. Na gigantesca China (1.288 milhões de habitantes) e na enorme Índia (1.079 milhões) cujo índice de crescimento do PIB foi respectivamente de 9,1 por cento e 6,9 por cento, a incidência de mortalidade neonatal é enorme e muito maior do que, por exemplo, no Vietname e Honduras. Estes factos demonstram que, ao contrário do que afirmam os discursos económicos e políticos dominantes, o crescimento económico não é uma garantia de desenvolvimento humano ou de melhoria da vida dos povos.
Um dos mais propalados Objectivos do Milénio é o de conseguir a universalização mundial da educação primária até 2015. O relatório do PNUD mostra que a manterem-se os actuais ritmos tal objectivo não será atingido sendo necessário, no mínimo, mais uma década. Existem hoje 110 milhões de crianças condenadas a não ir à escola. O relatório mostra que a escolarização regrediu em 43 países e que alguns deles se verão obrigados a traçar a meta da universalização da educação primária para 2040. O problema do analfabetismo infantil atinge mais é mais as meninas do que os meninos. Para além das dificuldades económicas, ou por causa destas, muitas famílias não mandam as meninas à escola preferindo prometê-las em casamento. Além disso elas são as encarregadas de tratar dos irmãos menores e de fazer trabalho doméstico. Actualmente há mais 20 milhões de meninas do que de meninos sem escola. Em 2015 a desigualdade persistirá, haverá sem escola mais 6 milhões de meninas do que de meninos. Este problema ultrapassa a questão dos direitos e tem profundos reflexos no desenvolvimento dos povos. "As mulheres pobres têm menos probabilidades de receber educação e atenção prenatal, e os seus filhos menos probabilidades de sobreviver ao nascer e de completar a escolaridade, o que perpetua o ciclo de privações e de pobreza e a passagem dos problemas de uma geração a outra", diz o relatório.
O relatório hierarquiza os 177 países considerados em três grupos: Desenvolvimento Humano Alto (1 a 57), Médio (58 a 145) e Baixo (146 a 177). Portugal ocupa o 27.º lugar.

Nota:
Versão integral do «Relatório sobre o desenvolvimento humano - 2005» em: http://hdr.undp.org/reports/global/2005


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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