Página  >  Edições  >  N.º 150  >  Violências incontroláveis: nas escolas e fora delas

Violências incontroláveis: nas escolas e fora delas

Ano letivo russo começa com detector de metais nas escolas

O Ministério do Interior russo informou que serão instalados detectores de metais nas escolas no dia 1º de setembro, como parte das novas medidas de segurança para o começo do ano letivo do país. Estas medidas de segurança foram adotadas para prevenir ataques terroristas como o de setembro do ano passado em uma escola da cidade de Beslan.(1)

Recebi com alguma surpresa a notícia acima. Não pelo motivo que leva as autoridades russas a tomarem tais providências, mas por perceber que tal medida de segurança não é ?privilégio? de alguns países. Ao contrário, parece que a violência escolar, tal como uma epidemia sem controle (ou motivos aparentes) está obrigando as autoridades escolares a rever suas estratégias de prevenção. Por conseguinte, todos acabam sendo obrigados a conviver com (e até desejar) algumas das (nada amistosas) práticas de controle social.
O espaço escolar ? tido e reconhecido como um espaço de desenvolvimento pessoal e coletivo ? parece não produzir mais aquela sensação de segurança desejada por pais, alunos, professores e autoridades. Ao contrário, o aumento da violência, constantemente noticiado pela mídia, aponta para inúmeras contradições, não muito fáceis de resolver, já que a violência parece ter se banalizado em um cotidiano de inúmeras adversidades e ter se transformado em um interessante produto midiático.
Episódios marcantes ocorridos nestes últimos anos em diferentes países nos levam a pensar sobre o que está ocorrendo e os motivos que levam alguns jovens a cometerem ações violentas contra seus colegas e professores. No Brasil, casos de violência escolar são freqüentes, embora não tenhamos notícias da prática de ?massacres? coletivos, em que poucos matam muitos, tal como ocorreu em passado recente, nos Estados Unidos, mais de uma vez: em Columbia (em 1999), em San Diego (em 2001) e em Cleveland (em 2003). Também na Argentina, no ano passado, um adolescente de quinze anos matou quatro colegas e feriu outros cinco com uma pistola. Na Alemanha, em 2002, um outro adolescente também disparou contra colegas, ferindo e matando.
De um modo geral, a violência praticada nas escolas alarma a sociedade pela diversidade de crimes cometidos, mas também pela dificuldade de enfrentá-la. Independente de suas causas, parece ser consenso que devamos combatê-la para podermos ?viver em paz?. Parece ser consenso também que, para combatê-la ou evitá-la, todas as ações possíveis devam ser realizadas.
Para tanto, na tentativa de combate à violência nas escolas e fora delas, justifica-se tudo (ou quase tudo), embora a aceitação de algumas das ações de prevenção e controle nem sempre seja tranqüila. Independente das reações às ações implementadas, a mídia noticia as vantagens das novidades tecnológicas que foram criadas para nos prevenir dos riscos a que estamos continuamente expostos (mas que também nos vigiam e nos controlam). São os controles eletrônicos, a revista pessoal, os raios-x, os cartões magnéticos, as câmeras filmadoras, os detectores de metais, os identificadores digitais, a leitura da íris (e seus microfilamentos), assim como aquelas que identificam as pessoas através de algumas características inusitadas: medidas e ângulos do rosto; cadência e freqüência da voz; geometria da orelha; ângulos das partes do corpo durante o andar; e através dos vapores e odores (ou seja, nossos cheiros).
Enfim, uma série de mecanismos e tecnologias que tentam resolver ou diminuir um mal (que parece estar) ?fora de controle?. E talvez nisto resida a maior contradição das medidas adotadas, pois, ao não conseguirmos comprovar que viver em sociedade não implica correr riscos, nos sentimos obrigados a aceitar todo e qualquer dispositivo que busque resolver este problema crônico, mesmo que o custo deste benefício signifique a perda de algumas de nossas ilusões, tal como a liberdade de que podemos ou não aceitar o controle imposto por tantas máquinas indesejadas.

1) Notícia enviada por correio eletrônico por TAM News Clipping, edição de 30 de agosto de 2005.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 150
Ano 14, Novembro 2005

Autoria:

Cristianne Famer Rocha
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Consultora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPS/OMS), em Washington (USA). Colaboradora permanente do jornal a Página.
Cristianne Famer Rocha
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Consultora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPS/OMS), em Washington (USA). Colaboradora permanente do jornal a Página.

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo