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A Katrina das pombinhas é má e escreve-se com K

Afinal a Katrina das pombinhas é má e escreve-se com K. Só à conta dela ? que avisou, com tempo, a passagem da categoria tempestade para a categoria furacão ? morreram, nos Estados Unidos da América. mais de mil pessoas. Números oficiais de uma tragédia que mostrou que os EUA também são Terceiro Mundo, pelo menos quando toca a socorrer populações negras.
A ordem dada para a evacuação de Nova Orleães só se aplicava aos ricos. Pobre, em regra preto, não teria, como não teve, meios para sair da cidade. Resignou-se ao refúgio do Estádio, um refúgio bem pouco seguro, pelo menos para as mulheres jovens. Os diques que entretanto abriram brechas revelaram negligências semelhantes às de quem não reparou, a tempo, a ponte de Entre-os-Rios (Hitze Ribeiro).
Rejubilando com a desgraça das populações pobres de Nova Orleães, alguns fundamentalistas islâmicos dizem que a Katrina foi obra do profeta a quem eles pediram um castigo contra os americanos e acreditam, piamente, que a Rita, sob um disfarce de furacão, é outra enviada de Deus para castigar Bush. Este também reza. Reza, pelo menos, para que a sua imagem pública possa recuperar em breve.
Na Argélia, chamada a referendar uma carta para a paz e reconciliação, bem necessária num país onde a violência interna dos últimos 15 anos já causou 100 000 mortos, o presidente Abdelaziz Bouteflika reagiu a uma lei francesa de Fevereiro último a declarar positiva a colonização que a França exerceu nas suas antigas colónias,  exigindo desculpas públicas de Paris pela colonização da Argélis de 1830 1 1962.
Na Alemanha, a vitória relativa da democrata cristã Angela Merkel não impede o social-democrata Gerhard Schröder de reclamar o direito a manter-se como chanceler. Será tudo uma questão de coligações susceptíveis de assegurar a maioria absoluta. O facto de Angela Merkel ser contra a candidatura da Turquia à União Europeia pode ser um trunfo para Schröder.
Isto sem esquecer a solução jamaicana para a Alemanha Uma hipótese que está em todos os grandes jornais de língua alemã. Pretenderá ilustrar uma possível coligação entre os democratas cristãos (preto), os verdes (obviamente verde) e os liberais (amarelos) ... Verde, amarelo e preto são as cores da bandeira da Jamaica, descobriu um jornalista alemão, criando uma nova solução política , a «solução jamaicana»!!!
Uma solução que não pode ser aplicada em Portugal: não temos pretos pois os democratas cristãos são azuis, temos verdes mas são mais ligados aos vermelhos e amarelos só se forem os da Carris...Com um bocado de sorte, a nossa Catrina é boazinha, as pombinhas dela não sujam os monumentos nacionais nem posam para os turistas e havemos de encontrar candidatos à Presidência da República que cubram todas as sensibilidades.
O mundo está tão esquisito que, às vezes, o melhor é levar isto a rir...


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 149
Ano 14, Outubro 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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