Página  >  Edições  >  N.º 147  >  Gestos e seus significados

Gestos e seus significados

É um facto que um gesto vale mais do que mil palavras, contudo são necessárias mais de mil palavras para abordar um assunto tão amplo que contemple o gesto e o seu possível significado?

No nosso dia a dia respondemos, como refere Sapir, aos gestos com uma extrema vivacidade,  segundo um código elaborado e secreto que não está escrito em parte alguma e que não é conhecido por ninguém mas é compreendido por todos. Partilhando a opinião de George Herbert Mead, a conversação por gestos está na origem de qualquer linguagem, ela é o modelo de qualquer comunicação, já que comporta dois aspectos de qualquer processo social: a reacção de adaptação do outro e a antecipação do resultado do acto.
A comunicação não verbal comporta-se essencialmente em três categorias: a cinésica, que se relaciona com os gestos, as posturas e os movimentos do corpo, a proxémica, que é a disposição dos objectos num espaço, e como as pessoas se dispõem num determinado lugar e a paralinguagem que se refere ao uso da voz para transmitir as palavras.
Mas o que é o gesto? Gesto é o movimento corporal próprio das articulações, principalmente dos movimentos corporais que são realizados com as mãos, braços e cabeça, este gesto é diferente do que denominamos gesticulação, já que a gesticulação é um movimento anárquico, artificioso e inexpressivo. Foram identificados e classificados pelos investigadores cinco tipos de gestos: a) gestos simbólicos ou emblemas; b) gestos ilustrativos ou ilustradores; c) gestos indicadores do estado emocional; d) gestos reguladores da interacção; e) gestos de adaptação ou adaptadores.
Os gestos simbólicos ou emblemas, são sinais emitidos intencionalmente, o seu significado é específico e muito claro, já que representa uma palavra ou um conjunto de palavras bem conhecidas, como por exemplo, levantar o polegar para cima.
Os gestos ilustrativos ou ilustradores ocorrem, durante a comunicação verbal e servem para ilustrar o que se está dizer. Qualquer tipo de movimento corporal que desempenha um papel auxiliar na comunicação não verbal, é um ilustrador.
Já os gestos indicadores do estado emocional, são semelhantes aos ilustradores no sentido em que também acompanha a palavra, mas difere no aspecto que este tipo reflecte o estado emotivo em que se encontra a pessoa. Através deste tipo de gestos expressa-se a ansiedade ou a tensão do momento.
Gestos reguladores da interacção, são movimentos produzidos por quem fala ou por quem ouve com a finalidade de regular as intervenções na interacção. Os gestos reguladores mais frequentes são as inclinações de cabeça e o olhar fixo.
Por último, os gestos de adaptação ou adaptadores, são gestos utilizados para esconder emoções que não queremos expressar. São utilizados quando o nosso estado de ânimo não é compatível com a situação interracional.
Para Argyle, os gestos da mão, braços, pés e cabeça estão intimamente coordenados com a fala e complementam a comunicação verbal, podendo indicar estimulação emocional em geral como estados emocionais específicos.
Existem gestos que são universais, como, abraçar, estender a mão para cumprimentar, rosto com um sorriso, triste ou irritado, os gestos acompanham-nos ao longo da vida, por exemplo, quando vemos um jogador de futebol realizar aquele gesto simbólico, como se estivesse embalando uma criança, é claro que todos entendem do que se trata.
Não há dúvida que existem gestos inatos, gestos que são próprios da sociedade em que nos encontramos, e outros que adoptamos por imitação. Mas nem sempre isto ocorre desta forma, existem vários estudos que constatam que os bebés quando nascem, já sorriem, mesmo os bebés que nascem cegos esboçam um sorriso que não poderia ser apreendido. Outros gestos e elementos não verbais são culturais, alguns específicos a determinadas culturas e outros gerais. Porque, efectivamente, conforme dizem os especialistas, a educação que recebemos é crucial para o nosso comportamento não verbal.
A primeira impressão é fundamental em quase todas as nossas relações com os outros. O que uma pessoa transmite num primeiro encontro origina um ideal que se forma no nosso inconsciente relativamente a essa pessoa. Um breve momento que chega para decidirmos se nos agrada ou não, e se queremos manter uma relação com essa pessoa, porque o modo de cumprimentarmos ou de nos movermos diz tudo acerca de nós.
A compreensão dos gestos que nos rodeiam é deveras importante para a actuação profissional, por isso, temos de modificar a forma como analisamos os outros, só assim, os conheceremos na sua verdadeira essência.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 147
Ano 14, Julho 2005

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo