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O que está por trás dos Manuais Escolares?

Os novos Manuais Escolares continuam a chegar às nossas escolas sem o tempo necessário para ser realizada uma selecção, caracterização e adopção criteriosa e rigorosa.

A selecção e adopção dos Manuais Escolares deverá ocorrer nas primeiras quatro semanas do 3º período do ano lectivo anterior.
Eis-nos chegados a esta altura de angústia em que nos confrontamos com a difícil tarefa de preenchimento das fichas de registo, apreciações globais e caracterização dos problemas detectados nos Manuais Escolares.
Assumo esta tarefa como difícil e exigente, pois o tempo para a tal apreciação continua a ser limitadíssimo.
Os novos Manuais Escolares continuam a chegar às nossas escolas sem o tempo necessário para ser realizada uma selecção, caracterização e adopção criteriosa e rigorosa.
Não quero acreditar que seja essa a intenção das editoras. Mas por que não nos enviam os novos Manuais Escolares atempadamente? Onde reside o medo de se seleccionar com rigor?
Constituindo o manual escolar o recurso pedagógico mais utilizado nas salas de aulas, desempenhando um papel preponderante nas práticas educativas diárias e tendo o poder de intervir no processo ensino/aprendizagem, urge tomarmos consciência da necessidade de mais tempo para a credibilização da importante tarefa que é seleccionar estes recursos.
As editoras, como empresas de uma economia de mercado que são, procuram legitimamente os seus lucros, dentro de parâmetros éticos e morais aceitáveis. Contudo, não se podem alhear do seu contributo social. Daí a necessidade de se chegar a um ?trade off? em que todos os parceiros ganhem.
 A bem da educação e da nossa sociedade não podemos continuar a aceitar, nem a fingir que não vemos, aquilo que uma parte continua a ganhar à custa do que as outras perdem. Por tudo isso é necessário um esforço de todos, mesmo que cada um tenha de prescindir um pouco de si para que o todo seja maior que as partes, e se atinja o resultado que todos ambicionamos.
O desabafo que aqui me é permitido, resulta da revolta que sinto em não permitirem efectuar, atempadamente, um exame minucioso do conteúdo dos manuais escolares, que continuam, infelizmente e repetidamente, a chegar às mãos dos professores dias antes do prazo estipulado por lei para a sua selecção e que urge tornar num processo o mais transparente possível.
Como professora do 1º Ciclo do Ensino Básico só peço (e acho que não é exigir muito), que me permitam ser rigorosa e criteriosa na tarefa de apreciação e adopção dos manuais, tarefa esta que me é imposta pelo Ministério da Educação. Até hoje, tenho plena consciência que nunca me foi permitido sê-lo.
De pouco nos serve preenchermos grelhas de avaliação de manuais, se continuamos a não ter acesso a um ?feed back? desse preenchimento. Transforma-se assim uma tarefa pedagógica e científica numa tarefa meramente rotineira, administrativa e burocrática.
Será por isso a visível indiferença e o alheamento de alguns professores no cumprimento desta tarefa? Qual o tratamento dado, pela associação de livreiros, aos dados que os agrupamentos de escolas enviam através das grelhas de apreciação por nós preenchidas?
Todas as questões que deixo no ar são um desafio e uma reflexão aos professores e exigência de uma resposta às editoras.
Caso se pare para pensar, concluiremos que este livro de consumo obrigatório é um recurso pedagógico dos mais utilizados nas salas de aulas, mas é também simultaneamente o recurso sobre o qual menos se sabe.

Nota:
No próximo número, neste espaço, retoma-se a rubrica «Da Ciência e da Vida»


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

Margarida da Costa e Silva Cipriano
Professora do 1.º Ciclo do Ensino Básico. Leitora do jornal a Página da Educação.
Margarida da Costa e Silva Cipriano
Professora do 1.º Ciclo do Ensino Básico. Leitora do jornal a Página da Educação.

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