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A educação social é um contributo indispensável à formação de cidadãos

As nossas escolas estão repletas de tralha. Os políticos atiraram lá para dentro com todos os problemas que não são capazes de resolver noutras instâncias. As várias instituições sociais entraram em crise e é à escola que se pede que as substitua. Se a família não educa, a escola que o faça. Se as igrejas perderam influência, a escola que promova a fé e dê a educação religiosa. Se a sociedade não educa, e não ocupa, a escola que o faça. Agarrados a esta perspectiva, os governos vão pedindo à escola tudo, e pedindo tudo fazem com que ela seja, cada vez mais, uma instituição que não dá nada.
Se agora a sociedade é outra então organize-se a nova resposta. Assuma-se com clareza a distinção entre o conhecimento científico e tecnológico e o conhecimento social. Ou seja, a educação científica e tecnológica e a educação social. Estas duas componentes educativas ganham se forem consideradas na sua especificidade. Cada uma precisa dos seus educadores, formadores e estruturas apropriadas. Sem perderem as condições de diálogo e de complemento devem ser, no futuro, encaradas separadamente. Chamemos educação escolar à primeira e educação social à segunda. O futuro sistema educativo é composto pelos dois sub-sistemas, o ensino e educação escolar e a educação social. Em jeito de caricatura, dir-se-ia que um requer laboratório de física, o outro sala de dança.
O sistema escolar deve livrar-se de muitas das suas novas incumbências. Os seus esforços devem concentrar-se na aprendizagem da ciência e da tecnologia. O tempo que requer deve destinar-se a essa função. Deve por isso libertar os alunos para que estes possam frequentar, naturalmente, o sistema de educação social. É neste último que os alunos encontrarão um espaço privilegiado de reforço da socialização e de formação da sua consciência cidadã. Não se perca de vista que o cidadão do nosso tempo não passa sem a educação científica e tecnológica ? educação escolar ? e sem a educação social. Ambas são indispensáveis à formação do cidadão do século XXI.
Em nosso entender a educação escolar é não só nacional como universal. Pode ter uma orientação central. Deve organizar-se de modo a permitir a mobilidade dos cidadãos não só no espaço nacional mas também no espaço internacional. Aprender matemática em Portugal não deve ser diferente de a aprender em Espanha ou na Alemanha.
A educação social deve ter como impulsionadores os municípios. Ela organiza-se a nível local. É um meio de combater a desertificação social e cultural das nossas comunidades. Destina-se não só aos jovens mas está aberta a toda a população. Relaciona-se com o sistema escolar, com as empresas, com as organizações culturais e com todas as instituições que visem promover a elevação do nível educacional e cultural da população portuguesa. É uma forma de aprender, mas é, também, uma forma de viver.
Na educação social estão incluídas áreas de formação como a educação para a saúde, a educação rodoviária, a educação ética e social, a educação para as artes, a educação desportiva, ou seja, todo um conjunto de aprendizagens e actividades consideradas indispensáveis à formação integral de um cidadão mas que, pela sua natureza, não se incluem na aprendizagem técnica e científica do sistema escolar formal.
Esta área de educação conta com a participação de agentes educativos próprios, que não professores, nomeadamente especialistas da área do teatro, da música, da saúde, do desporto, sendo encarada como um espaço de fruição cultural e de  aprendizagem ao longo da vida, proporcionando não só uma oportunidade de prolongar a aprendizagem de uma determinada área de interesse como também proporcionar um encontro inter-geracional, onde os antigos aprendizes possam ser mais tarde os novos mestres.

Recolha: Ricardo Jorge Costa

Organização do texto: Ricardo Jorge Costa e José Paulo Serralheiro


  
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Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

Redacção

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