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Não deixar cair uma boa experiência

Não é novidade para ninguém que o professor tende a leccionar as suas aulas pelo mesmo método das aulas que lhe foram ministradas. Se pretendemos mudar as nossas práticas não o conseguiremos só com a nossa formação teórica temos nós professores de vivenciar essas mudanças com os nossos pares consciencializando-nos dos efeitos e dificuldades da sua aplicação.

Com o Governo de Durão Barroso acabou-se sem qualquer explicação uma experiência ímpar de formação de professores que a meu ver deve ser outra vez implementada e generalizada.
Falo do Acompanhamento da Implementação dos Programas de Matemática e seus ajustamentos. Deve-se essa forma de formação aos autores dos ajustamentos.
Tratava-se de uma acção da responsabilidade do Departamento do Ensino Secundário (DES).
Essa formação reunia professores de todo o país para leitura, estudo dos programas e discussão da forma de passar para a sala de aula as reflexões feitas em conjunto pelos docentes.
Era um trabalho feito com os principais actores da implementação dos programas: os professores.
Esses momentos de encontro culminavam anualmente numa semana de intenso trabalho, em regime de internato, numa localidade longe das grandes cidades.
Eram seis, por vezes sete dias, em que ficando as tarefas rotineiras da vida de parte, cerca de 70 professores de todas as idades trocavam verdadeiras histórias de vida profissional, enunciavam as dificuldades pessoais e dos professores nas respectivas escolas e delineavam estratégias de actuação nessa realidade.
Ouviam outros, considerados especialistas sobre os temas dos programas quer matemáticos quer didácticos quer tecnológicos e os próprios autores estavam diariamente presentes.
Em conjunto delineavam novas estratégias e abordagens a ser aplicadas na sala de aula de cada um e ali mesmo eram testadas com os presentes.
Não é novidade para ninguém que o professor tende a leccionar as suas aulas pelo mesmo método das aulas que lhe foram ministradas. Se pretendemos mudar as nossas práticas não o conseguiremos só com a nossa formação teórica temos nós professores de vivenciar essas mudanças com os nossos pares consciencializando-nos dos efeitos e dificuldades da sua aplicação.
Ora nessa semana isso acontecia!
Numa dessas semanas o tema foi: trabalho de projecto.(na revisão curricular que se ia implementar estava previsto Trabalho de projecto como disciplina curricular!). Ora tendo os responsáveis posto à disposição recursos vários, tais como livros e documentos sobre realidade social da área geográfica onde se estava a trabalhar, os professores foram convidados a partir na definição de projectos por grupos. 
Como em todo trabalho de projecto pareceu aos professores que se partia ?às cegas? como diriam os meus alunos mas, o facto é que se executaram excelentes trabalhos com a prospecção da realidade local: as calçadas com seus desenhos, os problemas dos bombeiros no terreno, os problemas da água e sua distribuição, etc.
Assim se cumpriu o objectivo: os professores experimentarem fazer trabalho de projecto.
 Esperavam haver condições nas escolas para o voltarem a fazer com os seus pares, agora da escola, e com os seus alunos como área curricular!
Resta acrescentar que eram professores de Matemática.
Descobrir que matemática havia por trás de cada problema foi o pão-nosso de cada de cada dia de trabalho no projecto, foi uma semana a trabalhar conceitos, a definir problemas, a resolvê-los usando tecnologia e todos os recursos de que disponhamos desde os livros da especialidade e do tema e, evidentemente, a Internet!
Não ficam por aqui as razões da qualidade desta formação:
Havia uma página oficial de apoio ao professor de Matemática onde os frutos destes trabalhos eram partilhados agora com todos os professores interessados pelo país fora.
Os professores envolvidos tinham o compromisso de ?reproduzir? com o mesmo espírito, as acções nos seus locais de trabalho com os professores das localidades onde se situavam as suas próprias escolas! Assim fizeram!
O impacto deste tipo de trabalho estava a acontecer.
Todo o acto educativo leva tempo a dar frutos finais e a esses frutos ainda verdes, o ministro Justino cortou a rega. Corre-se o risco da frutificação não se dar.
Muitos professores de Matemática estão ligados entre si pela Internet e trocam mensagens sobre os seus sucessos, problemas e trabalhos.
Só não percebo porque razão este tipo de trabalho de formação de professores não proliferou, bem pior, acabou por parte do Ministério sem explicação.
Quero notar que, na verdade, os autores dos programas têm tentado, cada ano que passa, com esforço destemido, continuar com a formação e um fiozinho de água vai impedindo a seca total.
Creio que os professores lutarão com eles para que o ministério invista forte neste tipo de formação e nos incentivos para recolher experiências, avaliar, renovar e divulgar as boas práticas dos professores.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

Judite Barbedo
Escola Secundária Filipa de Vilhena, Porto
Judite Barbedo
Escola Secundária Filipa de Vilhena, Porto

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