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Globalização na Comunicação - O mundo falando uma mesma língua

Assitir a CNN é um ato interessante que deixa qualquer um impressionado com a notícia sendo vista em tempo real. O próprio slogan da companhia é ?Be the first to Know?.  transmite a sensação do imediato,  o sentimento de possuir na ponta dos dedos a informação em tempo real, no mundo todo, a qualquer hora. O que queremos é o sentimento de estarmos sempre bem informados. Porém na realidade essa sensação é produzida. Inúmeros são os métodos para fazer com que o telespectador tenha essa noção do imediato, do global e em tempo real.
Quando a CNN coloca ao vivo um jornalista falando em inglês britânico, notícias da Inglaterra, ou Reino Unido ela faz uma confusão mental que lhe dura segundos, mas você fica pensando que está na BBC, a principal concorrente, londrina, Inglesa. Até, se estivermos um pouco distraídos temos a noção de que realmente erramos de canal.  A CNN disponibiliza ao assinante o noticiário em espanhol o que transmite ao povo de língua castelhana as informações do ?mundo inteiro?. Veja que as informações que são veiculadas são invariavelmente provenientes ou dos Estados Unidos ou de seus interesses. Raramente noticias de países mais pobres são divulgadas na CNN. Os árabes tiveram que criar a Al Jazeera  para fazer valer sua ideologia e suas notícias. A tendência na noticia é facilmente verificada nas noticias de guerra. Quando os jornalistas da CNN estão cobrindo a guerra estão sempre do lado americano. Sendo assim a imagem é sempre unilateral, demonstrando o ataque americano e a resposta dos iraquianos. Quando a CNN filma iraquianos procura passar uma imagem de revolucionários, bárbaros e sempre em situação inferior. O ataque americano por sua vez é demonstrado de forma organizada, com armamentos sofisticados, altamente tecnológicos e isso cativa o mundo com essas imagens. O risco por sua vez de um produto global de comunicação é que os temas regionais são sempre protelados, colocados em segundo plano e deixados de lado muitas vezes pelos maiores interessados.
Podemos ressaltar os problemas da integração econômica na união europeia por exemplo, os riscos de que a formação do bloco europeu e seus debates, ficam em segundo plano porque o Arafat morreu por exemplo. É mais fácil uma TV européia como a RTP, RAI, BBC, TVE e outras, transmitir ao vivo essas questões do que se fixar em temas regionais.  As TVs locais limitam-se em traduzir os noticiários internacionais, comprando as mesmas imagens da CNN ou da BBC e a repercutir em sua língua nativa. Basicamente as traduções são feitas e as imagens reeditadas como se fosse um produto local. Mas essas imagens são cedidas ou vendidas pelas agências internacionais de notícias como a Reuters, a France Press, a CNN e a própria BBC que vivem disso e tem nessa prática um negócio rentável.
Psicologicamente é mais interessante saber o problema do vizinho do que o próprio. É mais fácil imaginar que o palco da guerra é lá no Iraque e não na Europa por exemplo e assistir de camarote tudo que acontece, de forma acéptica pela tela da TV, no conforto de nossos lares. É impossível imaginar o contrário hoje. Somente as grandes emissoras norte-americanas tem condição financeira para manter correspondentes em todo o mundo. Da Índia, ao Afeganistão, da África ao Canadá. Porém essa globalização é criada, manipulada, na verdade temos apenas a sensação de estarmos informados, mas ficamos a mercê de algumas notícias de interesse internacional, quando de fato temos problemas regionais muito importantes, mas esses transtornos não nos interessam, pois são do verdadeiro show da vida e não dos ?reality shows? vendidos mundialmente, enlatados e pronto para o consumo massívo.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

Fabiano Silvestre
Jornalista, especializado em Tecnologia da informação Mestrando em Multimeios pela Unicamp
Fabiano Silvestre
Jornalista, especializado em Tecnologia da informação Mestrando em Multimeios pela Unicamp

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