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A Cidade Maravilhosa da Inês

Como de costume, passo a visitar o jornal a PÁGINA da educação para, entre outras coisas, me deliciar com as maravilhas da autoria registrada tão distante e vista tão perto.
A surpresa de constatar um texto nomeando sua autoria à minha pessoa me passa uma sensação de estranhamento e dúvida. Estranhamento por não lembrar do título atribuído como possibilidade de ter sido pensado/digitado por mim. A dúvida foi de como vou colocar para as pessoas tamanho equívoco? O mais importante é que reconheço quem escreveu pela ?primorosa? escrita e  pelas lembranças de uma ocupação de espaço ao qual nunca pude estar.  A experiência inusitada desse mais novo desequilíbrio foi muito estimulante e será certamente inesquecível. Como não poderia deixar de ser, sobretudo porque, depois de tantas dificuldades para se conseguir a autoria nos espaços acadêmicos a persistência de um texto saltando de uma tela de computador me desconcerta o olhar, permitindo, assim, um envolvimento que misturam sentimentos, valores e ética mediante a constatação de: Esse texto não é meu!
Continuo desconsertada e querendo acreditar que, mesmo sabendo do uso de  táticas para dar autoria a outros para que suas idéias sejam divulgadas sem o medo de uma retaliação ou algo semelhante, como foi o caso de tantos autores como o fez  Bakhtin, meu  compromisso com a ética e com a qualidade científica, pedagógica e democrática, passo a percorrer a lista com o nome do/a provável autor/a. Descubro que o texto já publicado no ano de 2003 realmente nunca foi meu. Por razões óbvias fico alegre por ter conseguido encontrar a autoria do texto e, ao mesmo tempo preocupada com a situação desconcertante.
E agora José?
Com ?cliques? aligeirados passo a retomar o word para que  a escrita e reescrita de uma cidadania que signifique, não apenas o reconhecimento de direitos, mas, sobretudo de forjar o direito predispondo ao novo aprender para a imaginação política desse momento onde se reinventa outras possibilidades e outros espaços de emancipação. Retomando o texto e partilhando o espaço de reconhecimento da liberdade de autoria nA Cidade Maravilhosa: [com sua} paisagem, colonização e resistência cultural só me faz sentir o respeito por quem escreveu tão lindo texto. Passando  respeitar na sua autoria e na sua forma de agir, a autora, sem se dar conta disso, consegue entrar em um processo de relação permanente com os  saberes que interagem nessa rede de conhecimento que passa a entrelaçar também com os equívocos e nossos erros. Mais uma vez parece que esse inusitado cotidiano nos lembra da importância dos equívocos e dos erros para que a   emancipação se faça emergir politicamente comprometida com o aprofundamento da democracia.
Passeando livremente nas razões históricas, sociais e culturais, também presentes nesse inusitado cotidiano de ser autor,  ainda continuamos ignorando a importância dos enganos em relação a autoria e podemos estar excluindo a possibilidade de tecermos grandiosas alternativas e (re)invenção da capacidade de autoria.
Pablo Neruda já dizia que escrever é fácil. Começa com letra maiúscula e termina com um ponto e no  meio colocamos idéias. No entanto, não é fácil perceber a letra maiúscula iniciada por outra pessoa, as idéias contidas num texto e o ponto final que não lhe pertence. Assim, ao perceber que na Cidade Maravilhosa de onde se escreve tem-se a autora como grande amiga numa constante co-autoria do cotidiano de um grupo de pesquisa me faz sentir o quanto foi importante esse momento para nossa história de vida, nossa liberdade e identidade dos que se beneficiam agora da consagração de idéias e ideais das entrelinhas de um texto provocador de direitos ecológicos de saberes, sobretudo, num momento em que ser autor passa a ser ?controlado? pelas ?ditaduras? acadêmicas que impõe uma produção científica baseada em paradigmas cumulativos, classificatórios e tão fora de possibilidades da sonhada  liberdade. Tomara um dia eu poder escrever semelhante texto com sentimentos tão sublimes e saudosos!
Somando-se à reflexão do texto publicado em 2003 à discussão da conquista da autoria, podemos compreender que na história de nosso país, em especial na história da educação brasileira, junto com a estética privilegiada da paisagem,[e] essa alegria quase natural (Oliveira,2003) de uma população cujo acesso e permanência nas escolas ainda necessita ser garantido para que o belo seja possível para todos e os descobrimentos de equívocos  desempenhem papel fundamental para que instiguem novos equívocos como é o caso do que aprendi nesse momento com A Cidade Maravilhosa da Inês. Porém o estranhamento continua e a preocupação também.

Nota da Redacção:
Eis o resultado de uma avaria informática, da consequente desorganização de textos e da «pressão» com que inevitavelmente se edita um jornal. O texto com o título «Cidade Maravilhosa» é de facto da autoria de Inês Barbosa de Oliveira e foi por nós publicado em 2003. Foi agora republicado sendo a sua autoria atribuída, erradamente, à Solange C.F. Monteiro que connosco também tem colaborado. À Inês e à Solange o nosso pedido de desculpas. O nosso erro teve a vantagem de provocar a escrita do texto ? este sim da Solange ? que aqui se publica.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

Solange Castellano Fernandes Monteiro
Univ. do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil
Solange Castellano Fernandes Monteiro
Univ. do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil

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