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Uma experiência pedagógica na cadeira de Ecologia Urbana

Deixo à consideração dos leitores eventualmente interessados, notas sobre uma experiência pedagógica na cadeira de Ecologia Urbana. Pressupõe-se que o aluno tem que estar no projecto, participar, agir comunicativamente. Para isso tem que se engajar responsavelmente na actividade pedagógica e na formação dos outros que é também a sua própria formação. O educador é apenas co-construtor do processo de aprendizagem que  desbloqueia as situações que impedem a participação, a comunicação e a responsabilização.

A) Orientação Estratégica

A orientação estratégica desta disciplina baseia-se essencialmente na pedagogia conhecida como ?trabalho de projecto? que assenta na auto-formação e no auto-desenvolvimento através dum processo auto-pilotado.
Vamos tentar referir algumas linhas de força baseadas na auto-organização e autonomização dos alunos:
O trabalho de projecto é mais um processo criativo e menos um objectivo final previamente definido;
O trabalho de projecto é construção permanente, constantemente avaliada e pilotada;
Realiza-se através duma estratégia planeada e não resulta dum plano-modelo rigidamente definido apriori;
É no entanto, uma realização de prioridades dentro duma prospectiva aberta e em busca de sentido prático onde a inovação é criação. Opõe-se a qualquer futurologia mecânica e pré-determinada;
Desenvolve-se entre o desejo estratégico e a prática realizada apontando conscientemente as dificuldades e relançando as potencialidades ;
Possui assim uma linha de acção mas susceptível de ser testada e modificada pelo processo de avaliação dessa acção concreta;
É um processo consciente, livre e assente numa estrutura flexível e dinâmica. Trata-se mais de fazer funcionar do que de explicar a partir de definições apriorísticas. É uma procura, um processo de compreender.

B) Tempos Previstos de Auto-Aprendizagem

1. A música, o trabalho gestual e os trabalhos plásticos realizados no workshop ajudam a compreender a complementaridade entre hemisfério direito e hemisfério esquerdo, revelando a especificidade da actividade criadora.
2. O resumo das aulas, as fichas de leitura críticas, contribuem para o desenvolvimento do espírito crítico.
3. As intervenções teóricas ligadas a esta actividade prática de exercícios e jogos pedagógicos ajudam a reformar o pensamento através das noções veiculadas nomeadamente por Edgar Morin sobre a complexidade, a sistémica e a transdisciplinariedade.
4. Os filmes: Ecodesign, Biosfera II, Findhorn, Paolo Soleri, etc. são exemplos de explicitação da problemática tratada ao longo das aulas e permitem a visualização dos temas tratados.

C) Condições de Aprendizagem

1. O aluno tem que estar no projecto, participar, agir comunicativamente. Para isso tem que se engajar responsavelmente na actividade pedagógica e na formação dos outros que é também a sua própria formação.
O educador é apenas co-construtor do processo de aprendizagem que  desbloqueia as situações que impedem a participação, a comunicação e a responsabilização.
2. O balanço dos prazos e a reflexão sobre as faltas ou ausências de participação, constituem um elemento decisivo para se testar o grau de participação e responsabilidade no trabalho que se assumiu intencionalmente com as escolhas feitas: o vocábulo e o autor investigado, o tema escolhido e o livro seleccionado.
O papel do professor é o de assumir a construção dum projecto, através duma permanente actividade de regulação e sobretudo de exigência para que os alunos realizem a aprendizagem de auto-formação e auto-desenvolvimento. Estimular aprendizagem contínua é o papel essencial do educador (a avaliação resulta como um processo de espelho do aluno para se rever no processo de aprendizagem).

D) Aprender a Aprender

Metodologia prática e organizativa
O ?conhecimento de si? e o ?conhecimento do outro?. O conhecimento pessoal faz parte do percurso pedagógico. O aluno apresenta-se e é apresentado. Mas vai aprofundando o auto-conhecimento por exercícios  e provas que lhe fornecem um olhar reflectido sobre si e sobre os outros. A ficha com uma série de exercícios permite um processo de auto-análise, um retrato subjectivo e objectivo.
Os exercícios de expressão: os desenhos de forma, os trabalhos em barro e a expressão gestual constituem elementos de criação, comparação e auto-observação. Expressam a descoberta de linguagens primordiais, símbolos e referentes da cultura em que nos inserimos. Estes exercícios possibilitam nomeadamente a abordagem psico-social do meio envolvente (Umwelt) revelando as questões da proxémia (Eduard Hall), as questões do panóptico e os dispositivos topológicos de dominação e controle estudados nomeadamente por Foucault e ainda problemáticas ligadas às relações entre as pessoas e os lugares e sobretudo a relação produzida pelas formas de arquitectura e do urbanismo ? espaços agarofobos, claustrofobos e sociofobos.
A distribuição da informação:
A importância atribuída à pesquisa e à construção duma rede distributiva dos saberes do grupo, através do uso da informática, constituem o fio condutor da racionalidade pedagógica e da distribuição democratizada da informação.

Bibliografia:

Antropologia do Projecto, Jean Pierre Boutinet, Ed. Instituto Piaget;
Área de projecto-Percursos com sentido, Ariana Cosme; Rui Trindade, Ed. Asa, 2001;
Ensinar e Aprender por projectos, Marília Mendonça, Ed. Asa, Julho 2002;
Les Microsociologies, G. Lapassade, Ed. Anthropos, Paris, 1996;
Teoria de la Acción Comunicativa, J. Habermas, Ed. Taurus, Madrid, 1987;
Trabalho de Projecto ? um manual para professores e formadores, L. B. Castro, M. M.
C. Ricardo, Texto Editora, Lisboa, 1993

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 138
Ano 13, Outubro 2004

Autoria:

Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
Jacinto Rodrigues
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto

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