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A escola como centro recriador da memória e da cultura local

Num tempo veloz e fugaz, em que a alienação, o isolamento e o silenciamento das experiências, nos forçam a perder nossa memória coletiva, rememorar e compartilhar memórias é uma ação rebelde que adquire um caráter de resistência política: a memória compartilhada é uma forma de não sucumbir ao esquecimento que o tempo acelerado da vida social nos impõe.

A contemporaneidade produziu uma política de narrativas que engendra representações de mundo e agencia a realidade social, construindo assim, sistemas de conhecimento e estruturas de inteligibilidade que organizam a vida cotidiana.
Num tempo veloz e fugaz, em que a alienação, o isolamento e o silenciamento das experiências, nos forçam a perder nossa memória coletiva, rememorar e compartilhar memórias é uma ação rebelde que adquire um caráter de resistência política: a memória compartilhada é uma forma de não sucumbir ao esquecimento que o tempo acelerado da vida social nos impõe.
Resgatar, memórias e narrativas no cotidiano da escola, afirmando-a como lugar de pertencimento, é reatualizar oportunidades preexistentes e desenvolver possibilidades latentes de recriar, através da prática educativa, a história local a partir do lugar: realidade social experimentada diretamente e oportunidade de realização de uma história diferente.
Resgatar a memória coletiva de uma comunidade local é desvelar a tessitura das redes de saberes que dão sentido as nossas ações cotidianas, compartilhando-as coletivamente, através de um processo educativo que tem como ponto de partida e como ponto de chegada, a reinvenção da escola como um lugar apto a acolher o passado e a criar o futuro.
É nesta perspectiva que vejo a escola como um centro recriador da memória e da cultura local: como parte do desafio contemporâneo de projetar a escola como um lócus de preservação e socialização de marcas culturais e a prática educativa, como um espaço plural de memória e narração.
Pensar a escola como um centro recriador da memória, da história e da cultura local, significa dar conseqüência a uma prática educativa que, ao procurar articular saberes vividos e praticados com o conhecimento escolar, com a memória e com a história local, busca reinventar a escola como ?um espaço de sociabilidade e de práticas culturais diversas?. Resgatar acontecimentos e processos vividos, narrar experiências, compartilhar memórias e saberes, é resignificar a prática educativa como um espaço-tempo de autoconhecimento e a escola como um lócus de conscientização política e cultural.
Tendo como princípio que o ato educativo é um ato político (Freire,1997), acredito que a tarefa da educação é desenvolver e consolidar novas práticas de convivência e solidariedade, capazes de enfrentar o desafio de recuperar a diferença como relação de alteridade: relação efetivamente construída, que tem na solidariedade o fundamento para a construção de uma postura educativa que não vê o outro, a outra cultura como deficiência ou como mera diferença, mas o reconhece como legítimo outro. O que implica pensar a sala de aula e a escola, como espaço plural que congrega diferentes sujeitos e diferentes culturas, que traduzem diferentes formas de organizar o real e responder aos desafios da vida cotidiana.
Uma educação fundada na lógica da diferença tem como ponto de partida e como horizonte à inclusão ? aqui entendida como abertura ao outro, como esforço de descentração. No sentido epistêmico, tal postura coloca a diferença como relação, como alteridade, como possibilidade de cooperação e reciprocidade, que se traduz em atitudes de solidariedade.
Pensar a escola como centro recriador da memória, da história e da cultura local é produzir novos sentidos para a ação educativa escolar e se traduz numa ação rebelde, instituinte de novas práticas tanto no que se refere à organização curricular e as ações pedagógicas desenvolvidas cotidianamente na sala de aula, quanto na formação de professores, ou ainda no âmbito das relações escola-comunidade e com o contexto sociocultural mais amplo.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 138
Ano 13, Outubro 2004

Autoria:

Carmen Lúcia Vidal Pérez
Univ. Federeal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil
Carmen Lúcia Vidal Pérez
Univ. Federeal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil

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