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Teoria e Prática

Um dos objectivos do ensino deverá centrar-se nas competências, específicas e gerais, que habilitem  os alunos a prosseguir a escolaridade e, simultaneamente, desenvolver uma consciência cívica e solidária. São metas dos currículos actuais mas, muitas vezes esquecidas por força da rigidez dos programas, das provas que se aavizinham e das calendarizações inflexíveis. Na prática, todo o ensino está ainda alicerçado numa visão bancária e directivista, sendo a miopia dos objectivos responsável por uma perspectiva quantitativa dos resultados escolares. Tudo ajuda: o desenho arquitectónico das escolas, das salas de aula, a organização dos departamentos curriculares, as carreiras dos profissionais de educação a exigir resultados visíveis, a sociedade decididamente voltada neste início de milénio para as supostas vantagens do mercado, o desdém pela teoria e a obssessão pela prática e pelo pragmatismo, a unilateralidade dos fins da educação direccionados para o mercado de trabalho. Neste contexto, as visões formativas da educação são encaradas como pouco mais que meras divagações académicas ou de sonhadores, toleradas, aceites mas não levadas a sério. Enquanto forem fundamentais para a sequência do currículo o teste sumativo e os níveis de avaliação, a educação só poderá fazer mudanças ténues, de conjuntura quando muito, nunca alcançando o cerne da questão: que pretendemos com a educação, seleccionar e  excluir ou formar futuros homens conscientes, responsáveis e sabedores da extrema complexidade da vida em liberdade e democracia? Enquanto os programas específicos das disciplinas não se abrirem à evolução da humanidade como trave mestra de sua própria orientação, no sentido de um progresso ao nível dos direitos humanos e do que mais nos caracteriza como espécie ? a solidariedade ? qualquer reforma não passará disso mesmo, meras oscilações caleidoscópicas na complexidade do Ensino, com fins essencialmente burocráticos, administrativos e políticos.
A transmissão de conhecimentos, concretamente a actualização ao nível dos progressos no domínio científico e tecnológico são fundamentais mas, sem uma determinante componente formadora do jovem, mais separados estamos dessas descobertas que nos envolvem no dia a dia, manipulando-nos porque não lhes entendemos o sentido, desinseridas de um projecto global de cidadania e de humanidade.
E só a Escola poderá dar uma resposta positiva, através da integração de programas específicos em projectos curriculares, centrados efectivamente na formação individual e social dos alunos. Mas para isso, a teoria e a prática têm que funcionar em concomitância, alterando espaços, mentalidades, modos de vida. E cada professor, cada agente educativo, tem uma palavra e uma acção importantes a desempenhar. Naturalmente, contando com o apoio de políticas educacionais que esclareçam, sem ambiguidades, os seus objectivos e propiciem os meios necessários à sua concretização.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 136
Ano 13, Julho 2004

Autoria:

Paulo Frederico Ferreira Gonçalves
Professor do 2º ciclo na Escola Básica S. Torcato - Guimarães
Paulo Frederico Ferreira Gonçalves
Professor do 2º ciclo na Escola Básica S. Torcato - Guimarães

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