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"A Educação Infantil não é uma questão apenas pedagógica, mas social e económica"

1. No Brasil, o governo vem manifestando a intenção de ampliar a escolaridade, incluindo o atendimento a crianças a partir de 6 anos na formação básica obrigatória. Como está essa discussão na Europa?

Em 2002, no âmbito das discussões de metas para a Educação na Europa, a União Europeia estabeleceu seis parâmetros para se avaliar a qualidade na Educação Infantil. Um deles é o envolvimento dos governos nessa questão e por isso é importante que o governo brasileiro lance a discussão, mas não sou muito optimista quanto ao avanço da proposta. É que essa questão não é apenas pedagógica, mas também tem abrangência social e económica. Ocorre que as famílias abastadas já colocam os seus filhos na educação infantil, embora sejam justamente as menos favorecidas que mais necessitem desse apoio fundamental, por exemplo, para permitir que as mulheres possam trabalhar. Por isso, é necessário que a discussão seja encarada também pelas áreas sociais do governo e se considere a possibilidade de atender crianças desde os 3 anos.

2. Do ponto estrito da escolaridade, a passagem pela Educação Infantil assegura ganhos em relação a outras crianças?

As pesquisas indicam que nos primeiros momentos, sim. Quem passou pela Educação Infantil, mostra melhores possibilidades de aproveitamento escolar. Mas, logo nos primeiros anos, voltam a igualar-se. Isso ocorre também porque as crianças que tiveram o período pré-escolar acostumaram-se antes ao modo escolar, à cultura escolar. Isso pode ser um problema, pois quem não tem acesso à Educação Infantil tem maiores dificuldades para começar na escola. Um fracasso inicial pode ser prejudicial. É o que vem acontecendo, por exemplo, na França. Os filhos de imigrantes que não tiveram acesso à educação infantil têm maiores dificuldades no início da escolarização.

3. Deveria haver um currículo mínimo para a Educação Infantil?

Acho que sim, mas muitos acham que não. Creio que deveria haver um currículo pouco rígido, mais no sentido de garantir os direitos das crianças. Sim, elas têm o direito de encontrar uma qualidade mínima, serem atendidas por profissionais capazes. As escolas têm de ter em conta essa responsabilidade. Se não tiverem recursos, não devem funcionar. Por isso, a discussão do que deve ensinar a Educação Pré-Escolar deve estar inserida no contexto mais amplo de uma política para a infância. Outro aspecto importante deve estar ligado à formação dos profissionais, que devem ser qualificados para esse trabalho. Acho, por exemplo, que é preciso haver mais homens trabalhando na Educação Infantil. As crianças ganhariam muito com a diversidade de visões e experiências; o contexto escolar seria muito enriquecido. Mas é difícil, pois há preconceitos sociais acerca da participação dos homens. Existe também medo, em países como os Estados Unidos e outros da Europa, que haja risco de favorecer abusos sexuais das crianças.


  
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Edição:

N.º 135
Ano 13, Junho 2004

Autoria:

Miguel Zabalza

Redacção

Miguel Zabalza

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