Na ?a Página? nº 131 de Fevereiro de 2004 há dois artigos que são sinais exteriores da situação a que o nosso ensino está a conduzir, ou conduziu já. Refiro-me ao artigo de Angelina Carvalho, ?Escola reprodutora de desigualdades? e ao artigo de Ricardo Vieira, ?Afinal toda a gente anda em explicações?. São dois aspectos do mesmo problema. Ninguém acredita que a escola consiga resolver o problema das desigualdades sociais, nem é possível atribuir-lhe essa missão. Creio, no entanto, que ela pode dar a sua contribuição. Assiste-se muitas vezes a uma formulação de teorias relativamente à escola, que embora tendo intenções generosas, não conseguem transformar-se numa praxis efectiva e portanto não conseguem produzir o crescimento pessoal de todos os alunos de forma o mais equitativa possível, dentro dos condicionalismos actuais. É claro que os filho das classes privilegiadas têm vantagem sobre os outros. Têm em casa ou nas explicações o que os outros não têm. A minha preocupação maior é com o ensino da matemática, pois é ela que ensino, e é a pensar nela que apresento as ideias que seguem. As aulas são em geral, muito pouco produtivas em termos de aproveitamento dos alunos. O que eu proponho é um outro tipo de aulas em que a aprendizagem seja efectiva e contínua. Para que isso ocorra deve, na minha opinião, trabalhar-se da seguinte forma: 1 º - Reduzir ao mínimo a exposição oral do professor. É difícil, nas circunstâncias actuais, prender a atenção dos alunos muito tempo. Após o que coloca uma lista de tarefas ( problemas ), para os alunos resolverem nas aulas. Estes problemas ( tarefas ) devem ser resolvidos, durante o resto da aula, com a ajuda e estímulo do docente. 2 º - O docente desloca-se pela sala, por sua iniciativa, para acompanhar e estimular o desenvolvimento do trabalho; ou para atender a pedidos de ajuda dos alunos. Esta forma de trabalhar pode ser designada como filosofia de laboratório. Dadas as matérias passa-se à realização de tarefas. Trabalhar, nas aulas, desta forma tem inúmeras vantagens: 1 ? Obriga o aluno a um contacto mais íntimo com a matéria dada, de forma imediata. 2 - Possibilita que cada aluno vá trabalhando ao seu ritmo, o que também é vantajoso. 3 ? Mostra ao aluno que as coisas não são tão complicadas como pareciam e que estão ao seu alcance. 4 ? Assim, com os alunos a trabalhar e o professor a acompanhar, a tirar dúvidas, a estimular o trabalho, as aulas têm tendência a ser mais disciplinadas. Cada aluno estará concentrado na sua tarefa e por isso menos sujeito a distrair-se com questões marginais. 5 - Em geral os alunos gostam de trabalhar desta forma. A matemática e as ciências em geral não se aprendem só por ouvir falar. Se o aluno não trabalhar os assuntos, ficará com um conhecimento apenas superficial das matérias. Este texto pretende responder à questão de como pôr em prática um esquema alternativo de funcionamento das aulas. Termino com uma citação de G. Polya ( Matemático Húngaro ): ?- O estudante deve adquirir tanta experiência de trabalho independente quanta for possível. Mas se for deixado sozinho com um problema, sem qualquer ajuda ou com ajuda insuficiente, é possível que não faça qualquer progresso.? ?- Uma das tarefas mais importantes do professor é a de ajudar os seus alunos. Esta tarefa não é fácil; exige tempo, prática e bons princípios?.
|