Não há ainda uma ideia do que deverá ser a UE que permita agregar em seu torno e de um símbolo, cidadãos de sociedades profundamente nacionais. (?) O processo para consolidação de uma identidade europeia e de um sentimento de pertença á Europa realiza-se, essencialmente, através de dinâmicas económicas e sociais, de mobilidade e de comunicação?
A leitura de uma recente entrevista de Anne-Marie Thiesse sobre nacionalidades e cidadanias na Europa, sugere questões fundamentais para a construção de uma cidadania europeia no espaço da União Europeia (UE). Em particular, faz pensar nas resistências que se colocam à realização do projecto de educação para uma cidadania europeia e a sua coexistência com a promoção das cidadanias nacionais. Em primeiro lugar porque não há ainda uma ideia do que deverá ser a UE que permita agregar em seu torno e de um símbolo, cidadãos de sociedades profundamente nacionais. O processo para consolidação de uma identidade europeia e de um sentimento de pertença á Europa realiza-se, essencialmente, através de dinâmicas económicas e sociais, de mobilidade e de comunicação, factores que mais têm caracterizado o projecto da UE. São essas que os cidadãos dos países membros mais têm vivenciado. Mais difícil se torna a apropriação de factores históricos e culturais ? embora obviamente existam - na estruturação do sentimento comum de pertença à Europa, factores que têm sido essenciais na realização das identidades nacionais. Tendo em vista a promoção de um sentimento de identidade europeia e não apenas nacional, por parte dos cidadãos dos países membros, a UE propôs a inclusão nos currículos de uma dimensão europeia. Tal dimensão inclui, numa primeira fase (após 1988), a apreensão das raízes míticas, históricas e culturais da Europa e dos países membros ? os alicerces civilizacionais da Europa e dos valores e princípios fundamentais comuns; da história, economia, sociedade e cultura dos países membros ? para, numa segunda fase (Cimeira de Lisboa, 2000) acentuar o papel da educação e formação enquanto meio para tornar, até 2010, a União Europeia na economia baseada no conhecimento mais dinâmica e competitiva do Mundo, capaz de garantir um crescimento económico sustentável, com mais e melhores empregos, e com maior coesão social. Apesar da longínqua herança histórica comum, parece ser este o objectivo que mais congrega o sentimento de identidade europeia, na medida que é através dele que cada país membro pode progredir económica e socialmente e promover a qualidade de vida dos seus cidadãos. É, sobretudo, nesta dinâmica que os modos de vida e opiniões se vão tornando cada vez mais próximos gerando sentidos de identidade comuns. E, naturalmente, os processos inerentes à integração europeia, e outros factores, vão influenciando, com o tempo, o sentimento de identidade e de cidadania nacionais em cada país membro. Mas, nesta dinâmica de relações entre diferentes países, uns têm mais poder do que outros para afirmar as suas identidades nacionais. E este tem sido um fenómeno muito evidente no evoluir recente da UE. Prevalece um conjunto de competências gerais de base a assegurar pela escola, a todos os cidadãos da UE até 2010. Delas parece ter emergido a revisão curricular para a educação básica estabelecendo, enquanto finalidade principal, a educação para a cidadania através do desenvolvimento de 10 competências transversais essenciais. Faz sentido colocar agora algumas questões, certamente sem resposta imediata, acerca da realização das finalidades propostas nessa revisão. Como é a educação para uma identidade e uma cidadania nacional, intencionalmente promovida? Que conceito de identidade e cidadania nacional pressupõe o currículo e a prática dos professores? Como está o ensino e aprendizagem da História e Geografia de Portugal, da Língua e Cultura Portuguesas como aspectos estruturantes de identidade nacional? Como tem sido equacionada a relação entre mudanças culturais e cidadania? Como é realizada a educação para a coexistência necessária entre uma identidade europeia e de uma identidade nacional? Quais são os factores essenciais de identidade nacional face a novos processos e desafios globais, incluindo a integração europeia e a imigração? E finalmente: que formação de professores para educar para diferentes cidadanias? Estão as escolas de formação de professores a realizá-la?
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