Após anos de segregação étnica nas escolas da Bósnia, muitas vezes qualificada de "apartheid" social e denunciada por activistas dos direitos do homem, um ambicioso projecto educativo tenta agora diluir a atmosfera de "campo de batalha" que perdura naquele país oito anos após o final da guerra (1992-1995) levar. Actualmente, a maioria das escolas da Bósnia são ainda "etnicamente puras", mas meia centena de estabelecimentos de ensino aderiram a um programa que pretente juntar mais de meio milhão de alunos de diferentes etnias - 340 mil no ensino básico e 180 mil no ensino secundário - debaixo de um mesmo tecto. Em Vitez, dois alunos, Sakib Besic, muçulmano, e Matea Buzuk, croata, tiveram pela primeira vez oportunidade de frequentar juntos a mesma escola. Nos primeiros dias da experiência a polícia esteve em estado de alerta para a possibilidade de ocorrerem eventuais incidentes inter-étnicos entre alunos das diferentes comunidades. Apesar disso, Sakib e Matea não têm qualquer sentimento de rancor entre eles ou contra a comunidade oposta. "Não temos culpa que a guerra tenha existido. É preciso olhar para o futuro", diz Sakib. "Ainda há pessoas agarradas ao passado que sacrificam as necessidades e os direitos das crianças em prol de si próprias", lamenta Urdur Gunnarsdottir, um dos responsáveis da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) presentes no terreno, encarregue da coordenação do processo de reformas educativas na Bósnia. A reforma educativa posta em prática visa igualmente pôr as escolas sob a alçada de um único director, assistido por um conselho de administração multi-étnico, e já este ano lectivo os programas escolares foram, em parte, unificados. Um progresso importante já que, até agora, cada comunidade tinha os seus próprios programas e manuais escolares, interpretando de diferentes perspectivas o desmembramento da ex-Jugoslávia e o conflito bósnio.
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