ALI NO MEIO DAQUELA MULTIDÃO DE DESESPERADOS ESPERANÇOSOS, COM OS SEUS VELHOS E NOVOS SLOGANS, NO MEIO DA RUA QUE CADA VEZ MAIS SE ARTICULA E GRITA CONTRA OS OPRESSORES DE TODO O TIPO, ESBANJANDO A SUA BELEZA E MENINICE LÁ ESTAVA ELA. LEVADA ALI POR QUEM??
Ela estava ali, sentada, calma, rodeada de amigos e amigas de sua idade. Não se movia para não estragar a sua roupa de festa. Parecia não querer perder nenhum momento de toda aquela agitação. O chapéu de penas verdes e folhas douradas, bem fixo, combina com o vestido simples estampado com pequenas rosas. O discreto colar combina com a sua cor morena e os olhos negros. Um discreto par de brincos contrasta com o esmalte vermelho das unhas. O sorriso é de orgulho, dignidade e generosidade. De felicidade. A pose foi ensaiada para a foto. A elegância das mãos ao segurar um banal copo de plástico, mostra que a menina já aprendeu alguns códigos e os usa. Atrás dela uma mulher, traz na camiseta as informações de seu pertencimento ao grupo Articulação Feminista. A rosa dos ventos. Entre slogans de: ?Fora Bush?; ? Não à ALCA e ao FMI?; ?Paz?, imagens de ídolos e referências políticas e artísticas, entre bandeiras de todas as cores e símbolos à esquerda, mais à esquerda, por favor... Lá estava ela, orgulhosa, com o seu chapéu de penas verdes. Entre gritos e presenças das mais diversas, entre idades e cores vindas dos quatro cantos do mundo. Ali parada e sorrindo ela observava tudo e participava, com o seu corpo de chocolate, os seus olhos de jabuticaba, orgulhosa do seu chapéu, vestido e esmalte. Orgulhosa de estar ali e ser notada no meio da multidão. Como se chama essa menina? Qual a sua idade? De onde vem? Como chegou até ali? Como construiu essa elegância e a generosidade para com o forasteiro que lhe pedia uma foto? Ali no meio daquela multidão de desesperados esperançosos, com os seus velhos e novos slogans, no meio da rua que cada vez mais se articula e grita contra os opressores de todo tipo, esbanjando a sua beleza e meninice lá estava ela. Levada ali por quem? Por uma velha tia militante? Pela irmã mais velha? Pela mãe sempre pronta para a luta? Pela professora que não se esquece de que o seu trabalho é antes de tudo um ato político? Quem costurou o seu vestido, quem confeccionou esse chapéu, quem lhe pintou as unhas? Quem lhe ensinou o gesto para as fotos eventuais? Quem lhe deu a vida, traduzida nesse sorriso discreto nos lábios e nos olhos? O que será que a menina do chapéu de penas verdes, ao retornar à escola, ao seu bairro, à sua casa, ao convívio dos seus amigos e amigas contou sobre o que viu/ouviu/vivenciou/aprendeu na caminhada de abertura do III Fórum Social de Porto Alegre?
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