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Educação Desportiva

ENTRE NÓS, TANTO A EDUCAÇÃO FÍSICA COMO O DESPORTO ESCOLAR, ENQUANTO UNIDADES AUTÓNOMAS NO ÂMBITO ESCOLAR, TÊM VIVIDO NUMA DINÂMICA DE CONTRADIÇÕES QUE ESTÃO A PÔR EM RISCO AS PRÓPRIAS EXISTÊNCIAS.

Quando a generalidade das pessoas se refere ao Desporto Escolar (DE), fá-lo sem saber exactamente ao que se está a referir. Muitas vezes, confundem-no com a disciplina de Educação Física (EF). Tanto em Portugal como em outros países, não existe uma distinção muito nítida entre DE e EF. De tal maneira que, nos mais diversos países do mundo, a EF encontra-se numa profunda crise de identidade e de credibilidade educativa e social. Entre nós, tanto a EF como o DE, enquanto unidades autónomas no âmbito escolar, têm vivido numa dinâmica de contradições que estão a pôr em risco as próprias existências. A revisão em curso da Lei de Bases do Sistema Educativo seria uma oportunidade de terminar com um século de contradições.
O Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa,  definiu EF como "a disciplina escolar que tem como objectivo promover o desenvolvimento de capacidades motoras e corporais através da prática desportiva."  Quer dizer, o desporto tem vindo a assumir-se como o instrumento pedagógico e a própria substância da EF. Esta realidade existe nas escolas do Ensino Básico (2º e 3º ciclos) e Secundário. No entanto, por não ter suporte numa dinâmica organizacional adequada, a disciplina de EF não passa duma mera animação físico-recreativa, de qualidade duvidosa, num número significativo escolas. Hoje, alguns, querem-na salvar adaptando-a a uma espécie de exercício para a saúde, transformando os professores de educação física, numa espécie de para-médicos de segunda classe.
Em consequência da EF não responder à dinâmica social do desporto, foram criadas estruturas alternativas como a Organização Nacional da Mocidade Portuguesa a partir de 1936 e, depois de 1974, diversas estruturas coordenadoras para promover o desporto nas escolas. Hoje, existe um departamento no Ministério da Educação que organiza o DE através de um programa designado "Jogar pelo Futuro - Medidas e Metas para a Década", independentemente da disciplina de EF. É evidente que insistir nas mesmas soluções só se podem obter os mesmos resultados.
Estamos perante duas estruturas distintas que têm objectivos e utilizam meios idênticos. Se no passado esta situação foi aceitável, hoje, não faz sentido existir uma duplicação de meios, na medida em que os programas de EF assumiram o desporto como a sua própria substância. A ruptura é não só necessária como urgente.
Temos nos estabelecimentos do Ensino Básico (2º e 3º ciclos) e do Secundário, uma disciplina que embora se designe por EF, deveria designar-se por Educação Desportiva (ED), tal como a Educação Musical, a Educação Cultural ou Artística e outras, porque, de facto, o objectivo é transmitir aos alunos uma cultura desportiva que lhes proporcione vantagens no domínio do biológico, do psicológico e do social, que se prolonguem para a vida. Portanto, a EF faz parte do conjunto de disciplinas que no currículo dos alunos representa, o "outro lado" do processo educativo, que tem como objectivo promover a aprendizagem e o desenvolvimento de actividades no âmbito do lazer activo para a vida. E porquê?
Fomos educados para um mundo sustentado numa lógica do trabalho. A organização social foi equacionada em função do tempo que as pessoas passavam nos empregos. Entretanto, é necessário começar a ver todo o sistema pelo outro lado, quer dizer, pela organização do tempo livre, porque a relação "tempo de trabalho / tempo livre" cada vez é mais favorável ao tempo livre. Portanto, a questão está em saber como vamos aprender e ensinar a utilizá-lo, porque, tendencialmente, as sociedades cada vez serão mais organizadas a partir do tempo livre das pessoas.
Estamos perante a necessidade de construir uma escola que prepare os alunos para o mundo do trabalho mas que, também, os ensine para o mundo do lazer. Se as novas gerações não forem educadas para aproveitarem o seu tempo livre duma forma socialmente útil, elas vão encontrar, à sua maneira, a maneira de o fazerem e, como já hoje se pode constatar, a maioria das vezes, essa não é a melhor maneira de o ocuparem. Aqui, o desporto conquista espaço pedagógico privilegiado na complexidade do processo educativo, porque, enquanto instrumento de educação, tem um significado social à escala planetária, pelo que, até por isso, ganha valor acrescido no sistema educativo.
Assim, é necessário promover uma mudança de paradigma no que diz respeito à disciplina de EF. O que propomos é uma ED que, de facto, se prolongue para a vida, através do lazer activo. Com um modelo organizacional ajustado à dinâmica desportiva do nosso tempo e que se prolongue nas mais diversas actividades de complemento curricular, enquanto oferta da comunidade educativa. E que parta das seguintes premissas:

  • 1º ciclo fundamentado numa educação motora através dos jogos,
  • 2º ciclo ecléctico e generalista;
  • Orientação dos alunos a iniciar no 3º ciclo;
  • Términos selectivo da coeducação a partir do Ensino Secundário;
  • Organização hierárquica dos professores;
  • Especialização dos professores a partir do 3º ciclo;
  • Especialização voluntária dos alunos a partir do secundário;
  • Especialização das escolas em termos de qualidade quanto à oferta;
  • Adaptação dos programas a cada realidade local;
  • Avaliação e classificação dos alunos;
  • Mobilização e envolvimento progressivo dos alunos nas actividades desportivas escolares;
  • Estrutura nacional de coordenação;Assunção da competição como instrumento de ordem pedagógica;
  • Mobilização generalizada para as actividades desportivas de tipo informal;
  • Avaliação efectiva das escolas e do trabalho dos professores. Ranking de escolas;
  • Articulação do DE com o Desporto Federado e outras estruturas.

Um modelo deste tipo, permitirá a realização do aluno, o reconhecimento do trabalho do professor e a projecção social da escola. O professor enquanto gestor das práticas desportivas é o responsável pelas soluções de envolvimento da comunidade educativa. As sociedades científicas e as associações de profissionais, bem como as associações de pais e outras, deverão participar em cada momento do processo. Tudo isto implica a sua assunção ideológica, a nível governamental.

Modelo Organizacional

Anos

 

Ensino

 

Cursos

Educação Desportiva

Curricular

Educação Desportiva

Extra Curricular

Desporto Escolar

Idade

Esco-laridade

 

 

Superior

Desporto Universitário

Desporto para vida

Desporto Federado

18

 

17

12

Secundário

 

Especialização

Desportiva

Q. Competitivo Mod. 3

Actividades Informais

16

11

 

15

10

 

14

9

 

 

 

Básico

 

3º Ciclo

Orientação

Desportiva

Q. Competitivo Mod. 2

Actividades Informais

13

8

12

7

11

6

2º Ciclo

Iniciação

Desportiva

Q. Competitivo Mod. 1

Actividades Informais

10

5

9

4

 

1º Ciclo

Actividades

Pré Desportivas

Curriculares

Actividades

Pré Desportivas

Extra Curriculares

8

3

7

2

6

1

5

Pré

Escolar

Educação

Motora

Jogos

4

3


  
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Edição:

N.º 126
Ano 12, Agosto/Setembro 2003

Autoria:

Gustavo Pires
Professor na Univ. Técnica de Lisboa
Gustavo Pires
Professor na Univ. Técnica de Lisboa

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