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David Justino sentenciou! O Curso Tecnológico de Mecânica acabou!

CURSO TECNOLÓGICO DE MECÂNICA

APESAR DA OPOSIÇÃO DE PROFESSORES, ESCOLAS, UNIVERSIDADES, SINDICATOS, CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, ASSOCIAÇÕES PEDAGÓGICAS, AUTARQUIAS E ASSOCIAÇÕES EMPRESARIAIS, O MINISTRO DA EDUCAÇÃO DECIDIU ACABAR COM O CURSO TECNOLÓGICO DE MECÂNICA.

David Justino, ministro da Educação, tal como prematura e irreflectidamente anunciara, decidiu acabar com o curso tecnológico de Mecânica, pese o facto desta medida ter sido amplamente contestada por escolas, por professores, por Sindicatos, pelo Conselho Nacional de Educação, por associações de encarregados de educação, por associações empresariais, por autarquias, pelos Departamentos de Engenharia Mecânica das Universidades de Coimbra, Técnica de Lisboa e do Porto e por muitos cidadãos anónimos. Dificilmente se encontrará matéria relativa à Reforma do Ensino Secundário alvo de tão veemente e consensual protesto, o que, à partida, facilitava a escolha do caminho a seguir. Mas, infelizmente, a decisão do Sr. Ministro já há muito havia sido tomada.
A frase ?o mais cego não é aquele que não vê, mas aquele que não quer ver?, nunca pareceu tão adequada.
Uma série de perguntas se impõe:

  • Para que serviu o período de discussão pública do Projecto de Reforma?
  • Que confiança se pode ter nos nossos políticos, quando estes fazem tábua rasa de opiniões legítimas e avalizadas, responsavelmente expressas por uma maioria representativa dos seus interlocutores?
  • Que esperança se pode ter num país que, objectivamente, decide pelo não investimento na formação e na educação dos seus jovens?
  • Como se pode pretender INOVAR, investir no futuro  e no desenvolvimento, quando não se aposta na formação de técnicos com competências nos domínios da concepção de produtos e de processos e que, simultaneamente, sejam capazes de reflectir sobre as implicações humanas do trabalho que realizam?
  • Como se pode continuar a defender que, relativamente à Mecânica (e quase só para esta), a formação profissional pode substituir o papel atribuído aos cursos tecnológicos?
  • Como se pode esquecer que o público-alvo do ensino profissional não é o mesmo do que pretende enveredar pelo ensino secundário regular?
  • Como pode alguém responsável desconhecer ou ignorar a importância atribuída à área da Mecânica, sendo esta estruturante?
  • Como pode alguém ultrapassar a mágoa desta perda irreparável, mil vezes repetida, de consequências profundamente nefastas, quando, através da medida anunciada, se hipoteca o futuro do desenvolvimento técnico e tecnológico do país?

Tal como acontece para qualquer modalidade desportiva, em que a formação do maior número de praticantes é fundamental para o seu desenvolvimento, porque por essa via se garante a qualidade e a quantidade das equipas que se vierem a formar, o forte investimento numa formação qualificada dos jovens garante a existência de um maior número de técnicos de qualidade aos mais variados níveis e, consequentemente, de empresas cada vez mais modernas e mais fortemente motivadas para uma permanente evolução e inovação.
Lamenta-se que o Senhor Ministro da Educação não compreenda, ou não tenha querido compreender, o que muitos lhe tentaram explicar e que um Governo maioritariamente eleito continue a apoiar este tipo de decisões, baseadas, única e exclusivamente, numa política ?cega? de redução de despesas, sem olhar às implicações, a médio e a longo prazos, que as mesmas certamente acabarão por originar. Quando se anuncia uma reforma e em lugar de se limitarem a realçar as suas virtualidades intrínsecas e específicas, se dá relevo à comparação entre o seu custo e o custo de uma outra anterior, precipitadamente rejeitada, fundamentalmente porque não era sua, só pode ser legítimo pensar-se que os objectivos preconizados não são de cariz educacional/formativo, mas essencialmente económicos.
Provavelmente é por isto que já alguém dizia, com razão, que ?se não é possível comprar um Mercedes, compra-se um Fiat 600?, passe a publicidade e a linguagem automobilística.
Ainda é tempo de se corrigir o erro (grosseiro) que está prestes a ser cometido. Portugal e o futuro dos portugueses exigem a inclusão da Mecânica na lista de cursos tecnológicos propostos para o ensino secundário!


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 124
Ano 12, Junho 2003

Autoria:

Domingos Augusto da Silva Dias
P.Q.N.D. da Escola Secundária de Emídio Navarro, Almada
Domingos Augusto da Silva Dias
P.Q.N.D. da Escola Secundária de Emídio Navarro, Almada

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