A melhor maneira de falar pela paz é fazer justiça... aceitar o sonho de um mundo melhor e a ele aderir é aceitar entrar no processo de criá-lo.
Não é raro escrevinhar os meus escritos e, só depois, ir caminhando pelo texto à cata de um título. Desta vez não está a ser essa a metodologia, quer dizer, a apetência. Pois é, parece que senti o clique de um quebrar de vidro fino. Não ia eu, mulher com muito gosto em sê-lo, dedicar-me a prosa de obituário a propósito de qualquer senhora professora doutora catedrática que se tivesse finado. É lente, é mesmo aquele vidro de aumento que fazia parte da parafernália de secretária de escritório que se prezasse. O meu avô tinha uma, lembro-me, fazia as letras tão maiores! Há dias, em Vila Real, ouvindo, com muito agrado, diga-se, o deputado João Teixeira Lopes durante a conferência de abertura de um seminário das Jornadas Pedagógicas do SPN, ficou a martelar-me suavemente na cabeça uma sua asserção ?É preciso fazer lugar!?. Isto, a talhe de foice numa seara que se destinava ao corte da(s) violência(s). Dizia sabiamente Teixeira Lopes que anda por aí uma arma terrível conhecida por pedagogia do medo coberta por véu diáfano de política securitária. Também classificou certas manifestações de violência como não sendo mais do que resultado da impotência, efeito este decorrente do fracasso da cólera. Ora eu que passei uns bons dois terços da minha vida sem necessidade de usar óculos que não fossem de sol, vejo-me, nesta fase dos ?enta?, dependente de ornamentos destinados à visão ao perto. Se ver muito em cima produz fadiga, se calhar é melhor contemplar o mundo como quem olha paisagem em que a névoa e a mistura dos matizes lhe emprestam maior encanto. Quebre-se a lupa! Olhe-se o mundo! No mesmo seminário, na belíssima comunicação de encerramento, João Viegas Fernandes, professor do ensino superior no Algarve, cita Chomsky, acerca da esperança(?) de que a queda do muro de Berlim em 1989 levasse a canalizar grande parte das verbas despendidas com armamento, no desenvolvimento do Terceiro Mundo ?pelo contrário esse acontecimento ter sido uma catástrofe para os países do terceiro mundo... Isso significa que o Ocidente já não precisa de ter em conta os interesses do terceiro mundo e pode tratar esses países de forma mais dura. Este problema diz respeito à esmagadora maioria da população mundial... Aquilo que não toca os ricos e os poderosos não existe?. A lupa, agora digo eu, não poderá levar à cegueira? De tanto olhar perto, sem ?fazer lugar?, lugar à escala planetária... Segundo Viegas Fernandes, o papel dos intelectuais é, hoje, mais do que nunca, essencial na actividade política e social, através do seu contributo ao esclarecimento da acção dos actores sociais colectivos, entre os quais se contam os sindicatos. ?Faremos lugar? tendo consciência, como diz Paulo Feire, de que ?A luta pela paz, que não significa luta pela abolição, sequer pela negação dos conflitos, mas pela confrontação justa, crítica dos mesmos e a procura de soluções correctas para eles é uma exigência imperiosa da nossa época. A paz, porém, não precede a justiça. Por isso a melhor maneira de falar pela paz é fazer justiça... aceitar o sonho de um mundo melhor e a ele aderir é aceitar entrar no processo de criá-lo, processo de luta profundamente ancorado na ética?. Depois de beber tanto saber, vão as lupas parar longe!
|