Antes de qualquer reflexão sobre o presente e o futuro das energias renováveis em Portugal, nunca é demais relembrar que esta crescente ?imposição? para o seu uso tem origem nos motivos errados: remediar um mal instalado. Seria repetitivo falar dos motivos que levam a que esse mal esteja instalado porque, para isso, basta abrir a página de qualquer periódico num qualquer dia; importa sim reflectir sobre os erros cometidos e não os repetir noutros domínios. Estou a referir-me mais concretamente ao uso (ir)racional da água. Espero daqui a uns anos (não faltarão muitos, se a inércia continuar) não estar a fazer considerações sobre os incentivos e estratégias comunitárias e nacionais para o uso de tecnologias de conversão de água salgada em água potável.
O crescente aumento dos gases de efeito de estufa (GEE) ? dióxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de azoto e poeiras ? e os problemas que destes advêm - alterações climáticas, desequilíbrios ecológicos, problemas de saúde pública, entre muitos outros - fez com que os governantes mundiais pensassem em soluções que contrariassem esta tendência e uma das medidas, talvez a mais popular, foi a elaboração de um protocolo que estabelecesse metas concretas para a redução desses mesmos gases. Como os interesses pessoais em termos económicos de alguns países denominados de ?desenvolvidos? continuam a prevalecer sobre o interesse comum de preservação das espécies, não existe ainda a ratificação desse protocolo e, por isso, o esforço de uns é aproveitado pela ganância de outros. Isto tudo para evidenciar uma luta desigual. Nada de novo, portanto.
Com o objectivo de resolver esta situação tem vindo a desenvolver-se e a aplicar-se processos de produção de energia usando fontes renováveis. As fontes renováveis que mais têm contribuído para o consumo total de energia primária em Portugal são a energia da biomassa e a energia hídrica, tendo-se registado um forte crescimento do uso da energia eólica. Mas a evolução da produção nacional de energia é pouco significativa quando comparada com o consumo nacional, 2.4 Mtep* e 23.7 Mtep respectivamente. Quer isto dizer que quase 90 por cento da energia consumida é importada. Apesar da existência de uma directiva comunitária que impõe a utilização de 39% de FRE na produção de energia eléctrica gerada em território nacional até 2010, o país vai continuar a depender dos 93% da energia hidroeléctrica produzida nas barragens, dependentes, por sua vez, de acordos internacionais com o governo espanhol e, na mesma proporção, da importação de combustíveis fósseis. Neste contexto, afinal qual irá ser o papel representado pelas pequenas fontes de energia renováveis endógenas ? sol, vento, geotermia, resíduos da floresta ?, as únicas que decididamente nos tornam independentes em termos energéticos de países terceiros? Que benefícios ambientais globais podem ser retirados dessa directiva comunitária quando não há imposições relativamente à importação das fontes não renováveis ? petróleo, carvão e gás natural?
Parece-me oportuno, mas ao mesmo tempo lamentável, lembrar que Portugal possui excelentes condições em termos do recurso natural ? água -, para ser a próxima vítima dos ?senhores do mundo?, quando esta for, assim como é agora o petróleo, o bem mais precioso do planeta. Pensem nisso.
* Mega toneladas equivalentes de petróleo
|