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De novo, a banda larga

Outra vez, mais ou menos de repente, chegou-nos a novidade. Desta feita, foi a ?banda larga?. Já não tinham bastado as telecomunicações móveis, mais os seus telemóveis. Nem o aparecimento quase em simultâneo da Internet. Agora, é a vez da banda larga e as suas ?fabulosas?[1] - supersónicas (?), segundo publicitários pouco escrupulosos quanto às metáforas por eles empregues - velocidades de transmissão nos acessos à Internet a sugerirem-nos mesmo a realização de um sonho - seria este, de facto, um sonho nosso? -, o sonho de estarmos ligados em permanência, ou seja, como dirão os ?mais entendidos?, always on.

Não é a primeira vez que nos aparece a designação da ?banda larga?. Há cerca de duas décadas ela já aparecia sob a forma de acessos a serem materializados em fibras ópticas. Estas ?deveriam? substituir os já obsoletos pares metálicos de fio de cobre, usuais nos acessos à rede telefónica - as nossas conhecidas linhas telefónicas. Estas, num extremo, são ligadas ao telefone e, no outro, ao ponto, geralmente ?privativo?, de acesso à rede telefónica, atribuído ao ?assinante?. Com o acesso em fibra óptica, passava-se a poder ter, em simultâneo, acesso ao videotelefone e aos canais de televisão (telefonar ainda? - perguntava-se então).
Enfim, esta tentativa de solução não pegou. Uma solução bem acarinhada pelos fabricantes de fibras ópticas e equipamentos necessários ao seu funcionamento que viam aí um grande mercado e negócio. Pois tratava-se ?apenas? de construir toda uma nova infra-estrutura para substituir a dita mina de cobre constituída pelas dezenas e dezenas de milhões de linhas telefónicas. Solução no cemitério ou, pelo menos por uns tempos, uma solução congelada. A banda, da ordem das dezenas de Mbit/s[2], era não apenas larga, mas larguíssima. Não era como a que hoje nos é oferecida com grandes parangonas: um acesso permitindo umas centenas de bit/s.
Contudo, a banda larga, que agora nos é disponibilizada, não se destina em primeiro lugar - desde logo - à videotelefonia e à distribuição ao domicilio (ou a quaisquer outros destinos) de canais de televisão. E, em certa medida por isso, também não obriga à instalação de uma nova infra-estrutura em fibras ópticas. Aliás, neste mais modesto cenário, passadas as tais duas décadas, o que se faz é aproveitar as redes de cabos existentes: ou a rede das linhas utilizadas para o telefone (e, no essencial, esta continua a ser apenas uma) ou as mais novas redes para distribuição de canais de televisão via cabo coaxial (pelo menos no troço final das ligações).
Com efeito, um dos argumentos avançados pelos defensores / oferecedores de ADSL (Assymetrical Digital Subscriber Line), pois é este o nome consagrado para a tecnologia utilizada e respectivos sistemas utilizando o mesmo meio de transmissão que as vulgares e tradicionais linhas telefónicas, tais como as conhecemos em pares de finos fios de cobre, é que é possível aceder em banda larga à Internet sem ter que ?incomodar? as ligações do serviço telefónico. Mais. Passa a dispor-se, deste modo, de uma conexão que está sempre ligada, ou seja, always on (tal como acontece com a luz das lâmpadas, um vez que o seu interruptor esteja on, ligado).
Da mesma maneira está always on o nosso acesso de banda larga à Internet quando este for realizado sobre a mesma ligação que, através do cabo coaxial que ligamos ao nosso receptor, nos traz os canais de televisão. E, claro, também podemos dispor deste serviço, e consequentemente dos seus canais, em permanência, tal como com o ADSL continua a ser possível utilizar o telefone sempre que o pretendamos. Para tal, basta seleccionar o canal pretendido por meio do respectivo telecomando (ou seja, o mesmo ?interessante? dispositivo que nos proporciona a tão exclusiva actividade de zapping).
Enfim, é uma outra banda larga, mais modesta, é certo, mas assim mesmo relevante.

[1] Velocidades de transferência cerca de dez vezes superiores às usufruídas através das ligações telefónicas.
[2] 1 Mbit/s = 1 000 000 bit/s. 

  
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Edição:

N.º 120
Ano 12, Fevereiro 2003

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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