Página  >  Edições  >  N.º 120  >  Quase tudo bombástico

Quase tudo bombástico

Os portugueses, profundamente chocados pelas perturbantes revelações em torno de uma rede de pedofília que integrará gente até agora acima de qualquer suspeita, pouco relevo terão dado às declarações de Mário Soares sobre a guerra a dizer, por exemplo, que a carta dos oito líderes europeus (entre os quais Durão Barroso)  em apoio das posições norte-americanas na crise do Iraque "foi um acto de seguidismo que veio enfraquecer as posições europeias".
Mais duro, sublinhe-se, foi Vital Moreira, em artigo publicado no jornal  ?Público?. Cite-se: ?Os impérios sempre tiveram fiéis vassalos, cortesãos e favoritos capazes de  aplaudir todas as iniciativas do suserano contra infièis e bárbaros de todos os matizes, em favor da ?civilização? e do bem comum do império. Mas poucas vezes terá havido na História um tão despudorado acto de vassalagem do que a declaração dos oito chefes de governo europeus a favor da guerra dos Estados Unidos contra o Iraque?.
Remetido no próprio jornal que o entrevistou para o rodapé da primeira página, Mário Soares confessa-se ?pró-americano, amigo da América e amigo do pluralismo dos EUA?, mas não amigo da administração Bush. ?Porque esta tem a ver com o mccarthysmo, o ku-klux-klan, as religiões sombrias, essa coisa fanática de pensar que o mundo vai acabar e começar a rezar antes dos conselhos de ministros e coisas desse estilo, que é o contrário do laicismo, de todo o progresso?...
Num outro discurso, os governantes de Portugal garantem que o país nada perdeu e já ganhou com a posição assumida de apoiar Washington na cruzada contra Bagdad. Terá ficado ­? dizem ­ - na primeira linha da visibilidade mediática, o que potenciará o papel de Lisboa na geopolítica mundial. Fomos notícia em todo Mundo por alinharmos, incondicionalmente,  com Blair ao lado de Bush... Contra a Alemanha e a França, suposta e excessivamente complacentes com o Iraque.
Com as televisões entretidas em bombardear audiências alheias com confissões antigas e rumores actuais, não haverá nada mais bombástico, aos olhos dos portugueses, do que a passagem, pela base aérea que os norte-americanos  alugaram nos Açores, de gordos aviões de guerra carregadinhos de  armas, quiçá, até, de armas nucleares.  Em nome de uma nova estratégia para o Mundo, que, nas palavras de Mário Soares,  ?se chama a guerra preventiva para defender os interesses vitais dos Estados Unidos?.
Sublinhe-se que Condoleeza Rice, conselheira de Segurança Nacional do presidente norte-americano, admite estarem os EUA a preparar um governo mais funcional para o Iraque, com base num grupo de iraquianos que vivem na América, governo esse que terá a missão de manter a ordem no país, após a previsíevl derrota de Saddam Hussein.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 120
Ano 12, Fevereiro 2003

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo