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Guerra, eventualmente preventiva

?O princípio da guerra preventiva cria um precedente que pode ter consequências catastróficas?. O alerta tem a assinatura de Jimmy Carter e foi lançado pelo antigo presidente norte-americano no discurso de aceitação do Prémio Nobel da Paz de 2002. Carter lembrou que existem  ?pelo menos oito potências nucleares, três das quais ameaçam os seus vizinhos?.
Como disse Gunnar Berge, presidente do Comité Nobel, Jimmy Carter não ficará na história como o mais eficaz presidente dos EUA, mas ficará como o melhor ex-presidente que o país conheceu. Presidente de 1977 a 1981, o Nobel da Paz de 2002 apontou o poderia militar e económico, sem precendentes, que Washington detém e defendeu projectos que a Casa Branca repudia, como a proibição das minas anti-pessoais, a abolição da pena de morte e o Tribunal Penal Internacional.
O político americano que promoveu o primeiro acordo entre o Estado judaico e um país árabe (os acordos de Camp David, assinados em 1978, entre o Egipto e Israel) é uma voz crítica de George W. Bush, embora evite assumir posições muito divergentes das que marcam a actual política externa norte-americana. Para ele, no entanto, é claro que o unilateralismo defendido pelos falcões de Washington, é um erro a evitar.
Outra voz crítica é a do insuspeito The Washington Post. Este diário denunciou que os agentes da CIA encarregados de interrogar os inimigos capturados no Afeganistão estão a usar técnicas que roçam a linha divisória entre o legal e o desumano. De acordo com o jornal, a tortura do sono é uma das técnicas mais usadas no centro de interrogatórios da Base Aérea de Bagram.
Ainda segundo o The Washington Post , aos prisioneiros que cooperam a CIA oferece melhorias nas condições de detenção, fingida amizade, respeito, compreensão pela diferença cultural e, em alguns caos, dinheiro. Para este jornal de referência, na luta antiterrorista a frente dos detidos é das mais secretas e problemáticas. Pouco se sabe sobre quantos e quem são os detidos.
O respeito pelos direitos humanos, aplicável também aos prisioneiros, poderá não estar a ser assegurado aos cerca de 3000 detidos, em todo o Mundo, na sequência dos atentados de 11 de Setembro, depreende-se do alerta lançado pelo The Washington  Post, nas vésperas de um Ano Novo que não parece anunciar nada de bom, a julgar pela excessiva manifestação de poder que resulta da advertência norte-americana segundo a qual o Pentágono tem condições para aguenter e vencer duas guerras regionais ao mesmo tempo. 
Como diria  o padre António Vieira, no Sermão sobre a guerra, perante este ?monstro?, nem Deus nem Alá estarão seguros nos templos. Seja em Bagdad, no Iraque, seja em Pyongyang, na Coreia do Norte.


  
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Edição:

N.º 119
Ano 12, Janeiro 2003

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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