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Ser professor na Área de Projecto ? Um percurso entre o ser-se actor e autor

A reflexão subordinada à temática da identidade profissional dos professores tem trazido à luz do debate o modo como os professores vivem e sentem a sua profissão. Dilemas, tensões, desencanto, insegurança e desvalorização profissional têm sido alguns dos ?discursos? mais representativos dessa reflexão.
Valorizar a necessidade de procurar outros sentidos para a actividade docente e para o trabalho escolar parece-nos pois crucial.

Num olhar reflexivo sobre as possibilidades de trabalho na Área do Projecto ( ), emergem algumas questões, a saber: a Área de Projecto não determina o confronto com uma concepção que, mais do que subalternizar o papel do professor, contribui antes para reconfigurar esse papel, deixando de o definir quer a partir da relação que possa estabelecer com o saber quer a partir da relação que estabeleça, prioritariamente, com o aluno? O professor, neste contexto conceptual, não se pode afirmar como alguém cuja função primordial é, sobretudo, a de contribuir para potenciar a relação do aluno com o saber? O professor não deve deixar de pilotar para passar a ser co-piloto, não deve transformar-se numa espécie de guia que protege, incute confiança, que dá o exemplo e corrige, valorizando o aluno como centro da acção educativa e a cartografia da sua rede individual de representações? O professor não pode ultrapassar o nível de reconhecimento dos alunos, para ir construindo, em conjunto, conhecimentos sobre cada um e o grupo-turma a que pertencem? E com os dados recolhidos, não será possível repensar, questionar, as propostas de ensino/aprendizagem a implementar?
Novos desafios, outros sentidos parecem colocar-se então a estes professores bem representados em algumas metáforas actualmente utilizadas: o professor ?investigador-actor crítico?, ?o professor reflexivo?, o professor ?intelectual transformador?.
Ser professor de Área de Projecto será (auto)construir: (1) Oportunidades para Aprender - As suas práticas e os valores individuais vão ser partilhados e questionados por outros nas situações de co-docência ( ), na planificação, na construção e na recriação de matérias e de materiais em comum. Todos poderão ser colocados em situação de auto-análise, autocrítica e hetero-crítica e análise. É a reflexão na acção (na convergência reflexiva sobre a situação). É o compartilhar de espaços para desenvolver ?amizades críticas?; (2) Uma Ligação Permanente aos Contextos Reais ? Porque não se pode basear numa lista de conteúdos e de procedimentos técnicos que todos têm que aprender da mesma maneira. Tem de estar fortemente enraizado nos contextos em que ensina e desenvolve a sua experiência. A sua formação só tem sentido se a integrar nas suas próprias histórias, na sua biografia profissional, no seu universo de experiências com significado; (3) O Ofício de Investigador - É fundamental que se envolva na procura do saber e não se limite a consumir o saber produzido por outros. Deve envolver-se directamente em processos sistemáticos e rigorosos de recolha e análise de informação; (4) O Saber Ser (sempre) Professor - Exige-se que saiba, em primeiro lugar, e que seja, sempre, a pessoa. No seu "processo identitário", entre a "acção, a adesão e auto-consciência", deve prevalecer sempre a gestão pessoal de um ponto de equilíbrio entre a rigidez e a plasticidade.
Será neste fazer caminho, caminhando?pelo trilho da Área de Projecto, enquanto encruzilhada reflexiva, nesta descoberta e construção/reconstrução de uma nova identidade profissional, e através desta, que outros sentidos sobre o que é ser professor têm lugar.
(Só) Por isso, vale a pena o desafio e a inquietude de ser-se professor da Área de Projecto. E assim, não se constrói uma trincheira. Antes um observatório de transformações, onde o professor (e o aluno) serão actores e autores da sua obra.

  1. Nova área curricular não disciplinar introduzida nos currículos do Ensino Básico (Decreto-Lei nº 6/2001).
  2. No 2º Ciclo do Ensino Básico, a co-docência deverá ser assegurada, preferencialmente, por dois professores da turma, provenientes de áreas científicas diferentes.

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

Fernando Elias
Presidente do Conselho Executivo Agrupamento Vertical de Escolas de Colmeias
Fernando Elias
Presidente do Conselho Executivo Agrupamento Vertical de Escolas de Colmeias

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