O executivo de Silvio Berlusconi, o controverso primeiro-ministro
italiano conotado com a ala neo-fascista e neo-liberal europeia, propôs recentemente
um projecto de reforma da escola italiana que, na prática, pretende introduzir
a lógica de funcionamento das empresas no ensino. O "Inglês, a internet e a
empresa" são os três conceitos-chave desta reforma, apresentada nos Estados
Gerais do Ensino, realizados em Roma sob o protesto de milhares de estudantes
e de professores.
"Queremos introduzir na nossa tradição de formação clássica e humanista uma
bagagem tecnológica e linguística", afirmou Berlusconi no palácio de congressos
da capital italiana, para concluir que um melhor conhecimento do mundo do trabalho
e da sua organização só ajudará a "mudar mentalidades". Nessa perspectiva, os
jovens italianos "já não podem considerar o fim-de-semana como algo sagrado",
disse, referindo ainda que a competição entre escolas privadas e públicas é
a única "garantia de qualidade" para o sistema de ensino.
Um dos argumentos do governo italiano para favorecer a ligação entre o mundo
empresarial e a escola baseia-se no facto de o país ter uma das mais baixas
taxas de formação em alternância da Europa, onde apenas um estudante em cada
100 opta por esta via de ensino, contra 50 em 100 na Dinamarca, 30 no Canadá,
28 na Grã-Bretanha e 19 nos Estados Unidos. Os sindicatos, porém, desconfiam
das intenções do governo e acusam a reforma de provocar a perda de 60 a 80 mil
postos de trabalho.
Numa mensagem enviada ao encontro, o presidente da república, Carlo Azeglio
Ciampi, reafirmou o papel de "serviço público" da escola, mas salvaguardou que
esta se deverá "abrir à sociedade civil e ao mundo do trabalho". A oposição
de esquerda, por seu lado, recusou participar nestes "estados gerais" argumentando
que ele não passaria de um "talk-show".
|