Recuperaste o sorriso nos olhos das tuas crianças, mas ainda
o banhas com lágrimas de pobreza.
Começaste a transformar os pesadelos de guerra em sonhos de paz, mas há outras
armas que te perturbam.
Manténs a força do teu povo, mas tens que aprender que a força é mais força
se for resultante de vectores não necessariamente co-lineares.
Tens tanto trabalho a produzir e tantos braços à espera de ferramentas!
Tens que deitar mãos à obra e não conheces bem o projecto nem o caderno de encargos...
Precisas de solidariedade e podem querer dar-te ajudas que revertam para a fonte.
A tua reconstrução ganha raízes bem sólidas por provas dadas e por discursos
sábios e realistas de quem tem a responsabilidade de estar na vanguarda da tua
governação, mas não esqueças que governar é um acto participado e generoso.
As tuas escolas vão voltando a falar português por tua vontade, os teus professores
estão muito interessados na Educação e também no domínio da língua que partilhas
connosco, mas educar/aprender é participar na mudança e tu és o actor principal.
Os teus rios, quando descem da montanha quais cataratas "todo-o-terreno"
vão abrir sulcos de vida que te devolve o verde exuberante das florestas de
nobres habitantes, mas são teus, teus de pleno direito.
Deixa os teus kudas saltar de crinas ao vento, mas não lhes pregues ferraduras
que não precisam de calçado... nem lhes limites a liberdade.
Toma atenção ao sol que nasce de ti, não deixes que lhe invertam a trajectória,
isto é, não autorizes timoneiros estranhos a comandarem o teu barco.
Diz "não" com tanta firmeza quanta a naturalidade com que dizias "sim".
Levanta o olhar, que os teus olhos são bonitos e têm que observar o que vai
à tua volta; olha para o chão só para veres a coreografia do teu caminhar.
Aprende a entender o outro e mostra o teu eu, mas não corras o risco de contribuir
para que haja quem domina ou quem é tolerado. Respeito pelas diferenças é primeiro
prémio em corrida de cidadania. Medalha de ouro, como o do sol dos teus liurais!
E o crocodilo, que és tu, cuida-o bem! Olha que é proibido desapontar o menino
navegador!
Apesar de tudo, este ano e neste mundo, mais uma vez, como manda o calendário,
vai dizer-se que é Natal.
Agarra a esperança que construirá o teu Natal, Timor!
Iracema Santos Clara / Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima
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