Viveu durante 35 anos nos Estados Unidos - país do qual se tornou cidadão
- e regressou há dez anos à Europa, onde actualmente é professor convidado na
Universidade de Han, em Arnhem, na Holanda, seu país de origem. Mais do que
ensinar, Jacques Overhoff preocupa-se sobretudo com a crescente fracturação
entre humanismo e progresso tecnológico, e tenta transmiti-lo aos seus alunos.
É também um artista plástico reconhecido internacionalmente e um excelente conversador.
Os métodos educativos parecem esgotar-se cada vez mais na chamada educação formal,
descurando aspectos fundamentais como a educação para os sentidos e a sua importância
na percepção do meio. Segundo sei, essa é, aliás, uma das principais preocupações
na sua actividade docente...
Sim, considero fundamental utilizar o som e o movimento, e os sentidos em
geral, para aprender. Só dessa forma as crianças conseguem ser sensíveis ao
que as rodeia. Mas a educação para os sentidos está claramente a perder-se.
Os miúdos de hoje crescem "agarrados" aos botões das consolas de jogos e dos
computadores. Não vão para além das máquinas. E isto é preocupante, porque sem
o recurso à tecnologia tudo parece parar... Parece que ninguém se lembra que
os computadores não funcionam sem electricidade...
É por isso que logo na minha primeira aula digo aos meus alunos para fecharem
os cadernos de apontamentos, porque ele é apenas uma ferramenta, tal como uma
chave de parafusos. É isso que eu tento fazer nas minhas aulas, intuir-lhes
a observação, fazer-lhes ver para além do óbvio, a pensar de maneira diferente,
é tão simples como isso.
A educação está a mudar, mas receio que se baseie mais no acumular de conhecimentos
do que na fantasia. Muitos dos meus estudantes respondem-me que estudam hoje
com o intuito de, mais tarde, ganhar dinheiro. Que raio de resposta é esta?
Não há mais nada? É por isso que considero necessário um maior enfoque no ser
humano e nas necessidades sociais.
A educação ambiental está desenvolvida de igual forma nos dois lados do
Atlântico, na América do Norte e na Europa? A Holanda é um dos países pioneiros...
Na Holanda começou por volta dos anos setenta. Mas mesmo assim levou muitos
anos, quando deveria ter sido um processo natural... É preciso que aconteça
algum desastre para que as pessoas se apercebam da necessidade de educar para
o ambiente. Estou muito preocupado com países como o Brasil ou a Indonésia,
onde as florestas são devastadas para se "plantar" vacas e outros bovinos. E
os miúdos de hoje não se dão conta porque não são educados para isso.
Por outro lado, é curioso que nos Estados Unidos - apesar de ser impossível
competir com os grandes grupos agrícolas, que estão a destruir a terra, porque
produzem tudo de acordo com uma espécie de relógio biológico acelerado - exista
muita gente que esteja a voltar às origens e que produza fruta e vegetais para
os vender nos mercados locais. Há uma interessante espécie de mercado paralelo
a desenvolver-se.
Mas será uma actividade assim tão cara que as escolas públicas não possam
pôr em prática iniciativas de educação ambiental?
Penso que é uma questão política. Se os professores se mostram interessados
nesta área deveriam poder organizar alguma forma de aprendizagem sobre ela -
talvez sob a forma de um curso ou qualquer coisa do género, digo eu - e acompanhar
os alunos do princípio até ao fim da escolaridade básica.
Na universidade onde lecciono tenho a oportunidade de construir o meu próprio
currículo e na minha aula tento levar os alunos a perguntarem-se pelo porquê
das coisas. É tão simples como isso. Quando eles aparecem com um conceito, eu
pergunto-lhes de que forma eles o constroem, ou seja, tento desconstruir o processo
mental de aprendizagem.
Acredita na energia atómica como fonte energética?
O problema da energia atómica não está na sua forma de produção, mas nos resíduos
radioactivos que ela gera. Ninguém parece ter pensado nisso...
É preciso pensar então no aproveitamento de recursos energéticos renováveis...
É o mais lógico. Tem de pensar-se em fontes de energia alternativas economicamente
viáveis que substituam gradualmente as energias fósseis, porque a população
mundial vai crescer e terá de se lidar com esse problema. Felizmente, há actualmente
muitas instituições a trabalhar nesse campo.
Será que o futuro do planeta estará no estabelecimento de um governo mundial
que coordene políticas a um nível supra-nacional?
Bom, na minha opinião será muito difícil. As Nações Unidas são uma espécie
de governo mundial e podemos ver o verdadeiro circo em que essa instituição
por vezes se transforma. Quase parece ser preciso acontecer uma tragédia para
unir as pessoas. Mas pondo de lado esse pessimismo, não há dúvida que actualmente
os países cooperam mais do que antigamente e que esse pode ser um sinal encorajador.
Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa
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