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Sucesso Para Quê, Porquê?

Diferentes imagens vêm-nos ao espírito a partir do momento que ouvimos a palavra "sucesso". Alguns associam-na espontaneamente a uma pessoa, a um lugar, ou a um objecto de valor. Outros vêem-se num pódio, na casa dos seus sonhos ou ao volante dum carro de luxo.

Falemos às pessoas que nos são próximas; perguntemos-lhe a sua ideia de sucesso. Certamente que encontraremos diferentes concepções de uma para outra pessoa, podendo mesmo ser bastante diferente da nossa. Pelo facto podemos deduzir que se trata dum conceito unicamente subjectivo, dependendo da nossa personalidade, dos nossos valores, ou da nossa educação ?

Não haverá muito mais um ideal de sucesso partilhado pelo conjunto da sociedade. Um ideal ao qual todos nós aspiramos, mesmo que seja em diferentes graus, sem por vezes nos darmos conta ? É talvez esta ideia de sucesso que domina a nossa própria visão, que nos fornece os critérios de avaliação e que nos permite por sua vez julgarmo-nos e julgarmos os outros. Como se todos tivéssemos os mesmos óculos que, uma vez adaptados à nossa visão, reflectissem sempre a mesma percepção da realidade. Seremos nós portanto todos "escravos" do sucesso, dum ideal em que da parte de fora do mesmo nada tem valor, nada tem sentido, nada nos satisfaz.

Uma expressão bastante em moda que traduz esta ideia de sucesso, que não é nova em si, mas que tem agora, segundo me parece, mais força é ser ganhador. Se não fizermos parte dos ganhadores, quer dizer que nos encontramos entre os perdedores. No entanto, o que é que quer dizer ser ganhador ? Ganhar, é demarcar-se, ser o mais forte, o melhor, o mais hábil, o mais rico.

Numerosos livros e artigos têm sido escritos sobre o assunto, livros técnicos repletos de conselhos, de estratégias, de exemplos de ganhadores, de receitas prontas a aplicar. Quando se aborda estes manuais tudo parece fácil. Ser um ganhador está ao alcance de todos... É só necessário querer, estar motivado, fixar-se num objectivo, ter um plano de acção e, está feito ! Tudo isto nos faz, no entanto, criar uma imagem de que o sucesso se encontra, não muito longe, logo ali ao virar da esquina.

Pelo contrário, e em contraponto, se não seguirmos as regras e a disciplina dominantes, não chegaremos a ter sucesso no sentido valorizado pela sociedade (ter dinheiro, uma boa profissão, habitar uma boa casa num bom bairro, ter um bom carro, viajar, em especial no inverno, para os países quentes do sul) e não passaremos pois de verdadeiros perdedores. Perdedores identificados com a falta de confiança, o aumento da indignação, da crítica exacerbada contra nós mesmos, etc.

Serão estes propósitos alarmistas, exagerados ?

Quem não encontrou já jovens ou adultos com os seus sonhos destruídos, a ambição aniquilada, que não crêem mais conseguir ter o seu lugar na sociedade, realizarem-se em alguma coisa, sentirem-se úteis ?

Devemos por isso trabalhar para mudar a sociedade, levar as pessoas a ter uma outra visão, uma visão menos materialista do sucesso, uma visão mais humanista ? É isto realista ? Por outro lado não tiraremos nós mais vantagens em trabalhar sobre nós mesmos, isto é, em compreendermos a importância da pressão social face à nossa percepção do sucesso; em identificar os critérios sociais que mais nos convêm, e desta forma escolhermos um inventário de concepções que melhor se adaptam e apropriam aos nossos valores de sucesso.

Enfim, há portanto lugar para a nossa própria reflexão sobre o sentido do sucesso, sobre os meios que escolhemos para nos avaliar, sobre os domínios (trabalho, família, tempo livre, desporto...) relativamente aos quais pretendemos atribuir os níveis e significados de prioridade, sobre o que e como os queremos realizar na vida.

Em suma, não há, sobre esta problemática, boas ou más respostas; o que é importante, é conhecer os nossos valores, os nossos critérios de sucesso. Podemos escolher conscientemente a adopção dos actuais valores sociais ou definir os nossos próprios critérios em conformidade com os nossos valores, a nossa personalidade ou porque não uma feliz mistura dos dois ! Não vale mais a pena ter uma vida de sucesso do que ter sucesso na vida ?

António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal

  
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Edição:

N.º 106
Ano 10, Outubro 2001

Autoria:

António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal
António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal

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