Há quem tenha a opinião de que os dias e os anos específicos para comemorar determinados
acontecimentos, situações ou temáticas são coisas sem importância, porque nisso
devemos pensar todos os dias. É certo que as preocupações acerca dos temas comemorados
não se devem esgotar em momentos ocasionais, mas parece-me pertinente marcar,
de forma clara, Dias e Anos especiais. Sem eles, muitas pessoas
não tomariam consciência de certas realidades. Com eles há, seguramente, uma maior
certeza de que as inquietações de alguns ecoam um pouco por toda a parte.
Este ano de 2001 é o Ano Europeu das Línguas (AEL) e o passado dia
26 de Setembro foi o Dia Europeu das Línguas.
«A diversidade linguística da Europa é um elemento chave da sua herança cultural,
um bem que importa preservar no futuro.» Daí que, neste AEL, se procure incentivar
todos os cidadãos a aprender mais línguas (pelo menos duas além da materna)
na medida em que o seu conhecimento abre perspectivas tanto profissionais como
pessoais, para um mundo cada vez mais interdependente e globalizado.
À pergunta Quem pode participar no AEL? a respectiva organização responde
«Todos os cidadãos.» E foi precisamente o que me propus fazer (com a colaboração
de uma colega de outra escola) com o projecto de investigação e intervenção
www.aprender.portugues.ue.
Dois objectivos essenciais norteiam a acção: i) possibilitar o contacto entre
crianças que falam Português (basicamente entre os 6 e os 12 anos) e que vivem
em diferentes países da União Europeia (UE) e ii) divulgar a Língua e Cultura
Portuguesa.
Este projecto convida as crianças que, de alguma forma, se relacionam com
o Português, a participarem num intercâmbio com crianças de escolas portuguesas,
tendo como suporte um site na Internet criado especificamente para o
efeito.
Ultrapassadas algumas dificuldades na obtenção de contactos com escolas, surgiram
respostas de 6 francesas, 1 austríaca e 1 luxemburguesa (estes 8 estabelecimentos
eram então frequentadas por 1924 alunos dos quais 84 falavam Português). Todas
referem desenvolver actividades com alunos provenientes de outros países de
forma a manterem o contacto com a Língua e Cultura de origem. Tais actividades
são promovidas, principalmente, pelas respectivas Embaixadas e Ministérios da
Educação. No caso da Língua Portuguesa (LP), as aulas são leccionadas normalmente
por professores portugueses e, em vários países, é o Núcleo do Ensino do Português
no Estrangeiro (NEPE) que promove o seu ensino. Os professores inquiridos, que
trabalham entre 2 a 4 horas semanais com cada turma, dizem gostar do que fazem,
mas realçam a existência de vários condicionalismos que dificultam a sua actuação,
nomeadamente i) a grande heterogeneidade de idades dos alunos e de níveis de
conhecimento de LP; ii) a diminuta comunicação em LP que se faz no seio das
famílias e iii) a itinerância entre escolas que têm de cumprir.
Foram 72 as crianças que responderam ao inquérito apresentado. Destas, 78%
é de naturalidade francesa e 17% portuguesa. Relativamente à naturalidade dos
progenitores, 75% das crianças têm pai e mãe portugueses. O aprender Português
surge, na maior parte das vezes, mais como um desejo dos pais que dos filhos
(nestas turmas há também crianças em que ambos os pais são franceses). De todas
as crianças inquiridas, apenas duas nunca vieram a Portugal (são filhas de mães
brasileiras e não têm cá família); as restantes costumam vir uma vez por ano.
Perante a pergunta «Gostarias de comunicar com crianças portuguesas?» uma
grande percentagem de alunos respondeu favoravelmente: 61% «Sim» e 29% «Talvez».
Analisados os contextos (LP na UE e AEL) era altura de actuar.
http://www.minerva.uevora.pt/aprenderpt/
é o endereço onde pode navegar. O site funciona(rá), então, como
suporte a um intercâmbio virtual entre crianças que têm em comum o gosto pelo
Português, independentemente do país da UE onde vivam. Pretende-se, assim, aproximar
gentes, línguas e culturas através das Tecnologias de Comunicação e Informação
(TIC).
Oxalá este projecto, possa ser um contributo (ainda que modesto) para o sucesso
do AEL e, fundamentalmente, se mantenha como um instrumento útil para os falantes
de Português espalhados pela UE, para além do Ano Europeu das Línguas.
Betina Astride
Escola EB 1 nº 1 de Montemor-o-Novo
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