Sabemos todos que o Maltrato Infantil, é crime. Dentre as várias
formas de maltrato infantil está o maltrato emocional.
"É interessante destacar que é uma das formas de maltrato infantil mais
difícil de diagnosticar. Geralmente, detecta-se quando associado a outros quadros
severos de maltrato e ainda que confirmada a suspeita, a intervenção dos profissionais
e/ou do sistema legal ocorre de forma mais cautelosa", afirma Intebi. "É a conseqüência
da hostilidade verbal crônica em forma de burla, desprezo, crítica ou ameaça
de abandono e constante bloqueio das iniciativas de interação infantil. Quem
maltrata psiquicamente pode adotar atitudes tais como de humilhar a criança
frente aos outros, privá-la de saídas e de sua integração social, utilizando
para isto desde apenas evitar a socialização como até encerrar a criança em
casa.
Pode-se ilustrar este tipo de maltrato dizendo que os filhos podem ser atingidos
com atitudes, gestos e palavras, ou simplesmente rechaçando a individualidade
da criança ou do adolescente de maneira tal, que impeça o seu desenvolvimento
psicológico normal.( Copyright (c) 2000 eHealth Latin América)"
Lendo este texto, com tais informações, fiquei ainda mais preocupada com as
crianças disléxicas que, descobri, sofrem sim maltrato, quando estão perfeitamente
enquadradas dentro das situações citadas acima. Não precisamos bater numa criança
para que ela sinta-se maltratada, basta uma palavra pesada em sua essência...um
olhar de desprezo...Nós, pais e educadores, maltratamos uma criança quando não
compreendemos suas dificuldades escolares e pior que isso, quando as humilhamos
com nossos preconceitos acerca do seu insucesso escolar, quando ao avaliá-las
,damo-lhes notas morais e sociais através das suas notas escolares sem ao menos
imaginar que nisso existe sofrimento ; quando as comparamos com as crianças
não disléxicas . Uma criança com dificuldades escolares está marcada cruelmente,
carregando a pesada cruz de não saber o que fazer com suas dificuldades. Elas
têm uma bomba nas mãos. Estas crianças são atingidas em cheio na sua auto-estima
quando, com nossas atitudes, mostramo-lhes como elas são preguiçosas, lentas,
burras, desqualificadas... quando as desprezamos...as abandonamos...quando as
deixamos num cantinho da sala de aula...esquecidas.
Até quando estaremos cometendo este crime? Até quando apontaremos o dedo para
estas crianças e as julgaremos e as condenaremos pelos seus insucessos escolares,
quando na verdade, nós não nos sensibilizamos com suas dificuldades e não ouvimos
seus gritos ocultos de socorro desde tão cedo? Até quando nos colocaremos apenas
na posição de observadores e juizes , distantes e donos absolutos das verdades
educacionais e das teorias pedagógicas? Até quando nos colocaremos à margem
das dificuldades das crianças, como se fossemos apenas meros espectadores de
suas aprendizagens? Até quando iremos empurrar estas crianças de uma escola
para outra, como se esse fosse o processo perfeito para assisti-las em suas
dificuldades? Até quando a nossa sociedade literata induzirá crianças e adolescentes
com dificuldades escolares à caminhos perigosos que certamente irão desestruturar
a vida delas e de seus familiares ? Esse é um caminho perigoso...sem volta....
sem futuro.
Precisamos antes de mais nada, proporcionar a estas crianças e a seus educadores
(pais e professores) a informação de que suas dificuldades tem uma nome, um
porquê e uma solução. Agimos de forma arbitrária quando jogamos as dificuldades
escolares nas mãos das próprias crianças, quando não lhes damos condições para
suas realizações, quando imaginamos que a aprendizagem escolar é inata do ser
humano, quando não nos apercebemos de que ler e escrever são habilidades adquiridas,
precisam de embasamento anterior para que possa acontecer. Afinal não nos colocamos
como senhores absolutos da sapiência e da experiência? Somos incoerentes quando,
apesar de conhecedores (teóricos) de todos os fundamentos vanguardistas de educação,
continuamos presos ao passado, a uma estrutura educacional ultrapassada, e com
vínculos dos estereotipados "alunos perfeitos" e "professores onipotentes".
Enfim, fica uma pergunta no ar: São crianças com dificuldades de aprendizagem
ou é o sistema escolar com dificuldades de ensino?
Precisamos todos ousar.
Precisamos todos entender.
Precisamos todos nos comprometer.
Com todas as crianças, disléxicas e não-disléxicas.
Selene Calafange
Recife/Brasil
sbcalafa@terra.com.br
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