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Educação Multicultural

O debate acerca da educação multicultural tem proliferado ao longo das últimas décadas. Políticos, professores, educólogos, pais; enfim, os cidadãos em geral, têm omitido diversas opiniões, mais ou menos fundamentadas, acerca das reformas educativas que deveriam ser implementadas no sistema educativo. Este fenómeno ocorreu em praticamente todos os países do denominado mundo ocidental, obrigando a diversas alterações nas práticas educativas.

A diversidade cultural existente no nosso país é cada vez maior; contudo, as medidas tomadas no sentido de alargar o nosso sistema educativo às minorias existentes, não têm sortido o efeito esperado. Embora seja unânime a convicção da necessidade de uma resposta educativa adequada e equilibrada, que tenha em consideração o crescimento de uma sociedade cultural e etnicamente pluralista no nosso país e tendo em consideração que os debates, congressos e encontros sobre este tema são cada vez mais frequentes; no quotidiano educativo, a referência dominante continua a da maioria.

O desafio que se nos coloca é consideravelmente complexo. O debate teórico acerca da definição mais correcta, relativa à educação destinada a todos sem excepção, ser multicultural, intercultural ou pluricultural; demonstra, em parte, a dimensão do problema. Na comunidade, outros problemas se adensam, nomeadamente o racismo e a xenofobia, assim como as dificuldades inerentes ao elevado insucesso das populações imigrantes e das minorias éticas.

A nível europeu, o problema do racismo e da xenofobia tem aumentado consideravelmente, quer relativamente ao número de incidentes, quer em relação à gravidade destes. É espantoso e assustador ver jovens de 12 ou 13 anos manifestarem-se contra determinadas pessoas utilizando argumentos como a sua proveniência, cor ou religião; mas é-o ainda mais, quando esses mesmos jovens cometem actos de vandalismo justificados por esses ideais. No nosso país, felizmente, ainda não se atingiu semelhante dimensão; contudo, os actos de vandalismo têm aumentado consideravelmente nas grandes cidades.

É evidente que o nosso sistema educativo não consegue dar resposta a estas questões. Os manuais têm sido progressivamente alterados e actualmente já possuem alguns exemplos de outras realidades que não a nossa; contudo, estas iniciativas são manifestamente insuficientes.

É necessário fornecer oportunidades aos jovens que residem no nosso país, de forma contínua e individualizada; é necessário adaptar o ensino dos objectivos de cada grau de ensino às diversas realidades presentes em Portugal. Enquanto estas questões permanecerem no domínio dos debates teóricos, não será possível um verdadeiro avanço.

Acima de tudo é necessário ter em conta que Educação engloba muito mais que ensino, não se restringindo por isso às salas de aula, aos manuais escolares e à dialéctica professor-aluno. Educação diz respeito a todos os cidadãos, à forma como nos relacionamos quotidianamente com as pessoas que connosco convivem. Afinal, independentemente do país de origem, da cor ou da religião é de pessoas que estamos a falar, de seres humanos com necessidades e desejos, com expectativas de uma vida melhor, que também cabe ao nosso país ajudar a concretizar.

Se reflectirmos ponderadamente, será fácil apercebermo-nos que num país tão pequeno como o nosso, os habitantes das diversas regiões possuem costumes diferentes, pronunciam algumas palavras de forma diferente, acreditam em coisas diferentes... Se convivemos todos em harmonia à tantos anos, qual é a justificação para não aceitarmos outras pessoas, quando a base desse argumento é a diferença, que afinal tanto nos une?

Sónia Mairos Nogueira
Coimbra

  
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Edição:

N.º 102
Ano 10, Maio 2001

Autoria:

Sónia Mairos Nogueira
Estudante. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Coimbra
Sónia Mairos Nogueira
Estudante. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Coimbra

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