Quando falamos em violência quase sempre a pensanos e vemos nos outros.
Parece-nos sempre que a violência é algo de alheio e/ou que não
nos diz respeito. Trata-se sempre de uma realidade que se passa com os outros
e em outros lugares. Espantamo-nos com certas atitudes violentas e de insdiciplina
e por entre um "parece impossível" não nos interrogamos
seriamente sobre o porquê" (as causas) ou sobre o "para quê"
(o sentido da violência e da indisciplina).
As causas da violência e da indisciplina estão
mais ou menos estudadas, tipificadas e catalogadas. No âmbito das ciências
humanas muitos são os especialistas que oferecem estudos sobre o tema.
Há, em meu entender, muita gente preocupada e ocupada com a violência.
Direi mesmo que o diagnóstico está feito. Falta apenas actuar.
A desorientação dos adultos é a grande
responsável pela violência e indsisciplina juvenil. Pais, educadores
e professores deixaram de fazer valer a autoridade. Ora toleram tudo, ora reprimem
tudo, conforme os humores do momento. Ora actuar assim não responsabiliza
e é recusado pelos filhos educandos e formandos. Não podemos esquecer
que o sentido de justiça é exigido pelos adolescentes e pelos
jovens. E difícil mas é isto que temos de lhes oferecer.
Temos de uma vez por todas deixar de imputar a responsabilidade
aos outros. Temos isso sim, cada um dentro da sua esfera de competências
e responsabilidades avaliar a sua própria capacidade, por vivências
e experiências feitas para actuar e apresentar modelos não violentos
e disciplinados. A actuação não vai no sentido da penalização
mas no sentido da formação, no sentido do dar testemunho do quão
benéfico é ser-se não violento e disciplinado.
Há que colocar os adolescentes e os jovens a reflectir
não sobre teorias mas sobre vivências. Dizer que os adoslescentes
estão abertos a ideias nobres não chega. É necessário
oferecermo-nos como modelos desses mesmos ideiais.Na nosa condição
de educadores, pais ou professores temos de oferecer aos adolescentes e jovens
ideias que vivemos. Estou certo que a violência doméstica experienciada
por alguns dos nossos alunos será atenuada se lhes oferecermos vivências
de serenidade e de compreensão. Com efeito, todos sabemos que um adolescente
ou um jovem procura e acata fora de casa valores que em casa não pode
receber. Torna-se mais fácil a um adolescente admirar mais os pais de
um colega ou de um professor mais do que o seu próprio pai.
Choca-me o fatalismo de certos adultos, muitos até com
responsabilidades educativas, face a certa irreverências e atitudes de
agressividade dos adolescentes. Choca-me que numa idade propícia à
"modulação" não saibam apresentar ideiais e sobretudo
apresentar-se como modelo a imitar. Choca-me a falta de coragem que um pai ou
/educador possui para se apresentar como modelo aos olhos do filho, do educando
ou do formando. Choca-me o desânimo de certos adultos quando dizem: "é
impossível, a gente oferece-lhes o que é bom, depois em casa estragam-nos.".
Concordo com estes desbafos porque são desabafos sujeitos
a prazos de recuperação, sujeitos a uma aposta que fizemos de,
num determinado tempo, "recuperar" um adolescente para a não
violência e disciplina. Temos de dar, dar e nada esperar. Temos de ser
utópicos se queremos ter sucesso face àqueles que têm muito
de utópico. Pais, educadores e professores têm de perceber que
dar na perspectiva de nada receber é o caminho do sucesso educativo.
Nós adultos temos de ser realistas e sobretudo autênticos. Ofereçamos
valores e vivências despreocupados do sucesso e obteremos o sucessso que
é justo esperar. Possamos dizer "dei e não sei quantos receberam
ou receberão". Será este dar desinteressadamente incompreendido?
Aos pais e professores que sei ocupados com educar e formar,
a minha homenagem e o meu apelo para que não desesperem, pois filhos,
educandos e formandos saberão (mesmo que o não revelem) agradecer
e reconhecer.
José Manuel Ferreira
Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação
Escola Básica 2,3 de Paço de Sousa
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