Experimentar a ciência ao vivo: tocar, cheirar, ouvir,
interagir com instrumentos que nos dão a explicação para
fenómenos que julgávamos serem apenas compreendidos pelos cientistas.
Situado em Santa Maria da Feira, a 30 Km do Porto e a 45 de Aveiro, o Visionarium
- Centro de Ciência do Europarque é um museu de ciência interactivo
destinado a crianças e jovens dos 7 aos 77 anos. Um laboratório
sensorial dividido por cinco salas, ou "odisseias", que representam outras tantas
áreas de conhecimento - a Terra, a Vida, a Matéria, o Universo
e a Informação -, e que nos ajuda a compreender experimentando,
com a vantagem de estar situado num parque verde com cerca de 25 hectares, permitindo
outras actividades que não apenas a visita.
Ao longe, a cúpula do Visionarium traz-nos imediatamente
à memória um observatório astronómico. Já
no interior, somos convidados a assistir a um espectáculo multimédia
que nos leva a redescobrir as viagens dos navegadores portugueses, e nos mostra
o contributo dos descobrimentos para o avanço científico da altura.
Aos poucos, somos levados para épocas mais contemporâneas e vamos
percebendo que a ciência é uma evolução constante
que pode ser usada para o bem e para o mal. Um espectáculo muito interessante
em termos visuais - apesar de não estar legendado para surdos - que funciona
como um cartão de visita para o que se irá seguir.
No dia em que lá fomos, acompanhámos uma turma
do 9º ano da escola Básica 2,3 de Queijas, uma localidade do concelho
de Oeiras. A animação era muita, mas nem todos pareciam estar
atentos aos conteúdos explicativos constantes nos painéis de informação.
Compreensível se pensarmos que mexer nos instrumentos é sempre
mais agradável do que ler todo o princípio científico por
trás do seu funcionamento. Para saber até que ponto se interiorizou
os saberes, é distribuído aos visitantes um questionário
sobre as diferentes etapas do percurso, em forma de pedipaper.
Uma das principais curiosidades da Odisseia da Terra, representada
na sala Magalhães, é um pequeno monitor onde podemos visualizar
a galáxia em que estamos situados e, lentamente, viajar pelo interior
do nosso sistema solar, vendo o nosso planeta aproximar-se e, nele, Portugal,
Santa Maria da Feira e, finalmente, o Visionarium. Nessa sala, percebemos também
como consegue um avião suster-se no ar ou porque flutuam os barcos mesmo
sendo de ferro.
Na sala Mendeleiev, que retrata a Odisseia da Matéria,
uma das representações que mais curiosidade despertou nos alunos
foi a tabela periódica disposta em semi-círculo, contendo um exemplar
de cada um dos diferentes elementos em pequenos mostruários transparentes.
Apesar de alguns dos elementos não estarem na altura disponíveis,
deu para ficar com uma ideia do alcance que um "brinquedo" como este pode ter
na sala de aula, já que torna interessante aquilo que no papel é
habitualmente uma "seca".
Mais à frente, na Odisseia do Universo podemos ver qual
seria o nosso peso em Plutão ou como funcionam os telescópios.
É também ali que se pode experimentar um engraçado bilhar
gravitacional, para compreender de que forma funciona a lei da gravidade, porventura
um dos princípios científicos mais difíceis de explicar.
Como evoluiu a vida na Terra? O que é o ADN e qual o
funcionamento do código genético? Estas são algumas das
questões que conseguem ter resposta na Odisseia da Vida, onde se pode
igualmente perceber o funcionamento do olfacto, tentando adivinhar os cheiros
contidos em caixas especialmente preparadas para o efeito, ou da visão,
compreendendo porque razão os olhos recebem as imagens invertidas e só
depois o cérebro as corrige.
Na última sala, a Odisseia da Informação,
entramos no mundo das tecnologias de ponta e compreendemos como funciona um
computador ou um robot. Outra das curiosidades ali presentes é o mundo
infinitamente pequeno dos microchips, onde podemos observar, ampliadamente,
os milhares de circuitos impressos que cabem num destes dispositivos, que não
ultrapassam, em tamanho real, o tamanho de uma unha! Ver para crer...
Existe ainda um Experimentário onde se pode participar
em demonstrações ao vivo que ilustram os princípios científicos
apresentados nas salas. Há também um espaço de exposições
temporárias, onde durante os próximos meses se poderá fazer
uma viagem ao passado e ver os famosos instrumentos científicos de física
da Universidade de Coimbra, alguns com mais de duzentos anos.
Os instrumentos postos à disposição dos
visitantes nas diferentes salas são feitos em materiais fortes, especialmente
aqueles que implicam esforço e resistência, estando por isso preparados
para as diatribes dos mais reguilas. O único senão de toda a visita
está na informação disposta nos painéis que acompanham
as experiências, onde se utiliza uma linguagem que poderá ser menos
acessível aos mais novos.
É essa pelo menos a opinião da Patrícia
Pereira, de 14 anos, que considera algumas da explicações "complicadas".
Apesar de existir uma guia para esclarecer eventuais dúvidas, talvez
merecesse a pena repensar o diálogo que se pretende estabelecer com o
visitante. Já uma das professoras que acompanhava a visita considerou
que, apesar de "muito interessante", a exposição tem "muita informação
escrita" para o tempo disponível: vinte minutos para cada sala, para
um percurso que demoraria, pelo menos, meia hora.
Carlos Soares, presidente do Visionarium, afirma que este centro
de ciência está, em parte, a substituir-se ao Estado na divulgação
da ciência no nosso país. "E os apoios que temos são escassos",
lamenta, apesar das parcerias celebradas com o Ministério da Educação
e com o Ministério da Ciência e Tecnologia. Lembra ainda que esta
é uma instituição sem fins lucrativos, cujas receitas são
integralmente reinvestidas a favor da própria instituição,
iniciativa da Associação Empresarial de Portugal, que ali dispendeu
perto de 2,5 milhões de contos.
Com apenas dois anos de existência, o Visionarium foi
já distinguido com uma Menção Honrosa no âmbito do
prémio Museu Europeu do Ano. A distinção foi atribuída
pelo Fórum Europeu de Museus, e o vencedor foi o Museu Guggenheim, de
Bilbao.
Clube Visionarium
O Visionarium foi já visitado por 550 mil visitantes,
dos quais 400 mil tinham entre os 6 e os 17 anos, mas quer ir mais longe, nomeadamente
às escolas. Para isso, desenvolveu o Clube Visionarium, que pretende
dinamizar os clubes de ciência das escolas, associações
culturais e juvenis. Este envolvimento pretende ser traduzido através
de actividades como concursos, projectos de investigação, colóquios
e outras acções que levem à partilha das últimas
novidades da ciência e da tecnologia.
Um dos meios previligiados para o desenvolvimento destas actividades
será a internet, através da qual se propõe dinamizar encontros
e espaços de debate 'on-line', bem como apresentar e catalogar 'links'
para os sites mais interessantes nas áreas de ciência e tecnologia,
robótica, informática, ecologia, mecânica, química
e astronomia. Mais informações podem ser encontradas no 'site'
www.visionarium.pt.
As escolas que quiserem aderir a esta iniciativa terão
de pagar uma anuidade de 10 mil escudos, tendo que criar uma assembleia constituinte,
composta por dois professores, dois alunos e um representante da associação
de pais, que funciona como elo de ligação com o Visionarium..
As escolas associadas recebem quadrimestralmente a "Upgrade",
uma pequena revista onde se divulgam as actividades do clube, têm acesso
a uma página própria no 'site' do Visionarium, notícias
via e-mail, e descontos nas visitas de grupo e nas viagens científicas
organizadas por esta instituição. Uma das últimas levou
os participantes à Turquia para assistir ao último eclipse solar
do milénio. Este ano estão previstas visitas guiadas aos Açores,
a Londres, a Paris, aos EUA e à Suiça, e, se a escola assim o
desejar, pode ela própria propôr outros destinos cuja planificação
ficará a cargo da equipa do Visionarium.
Outra das áreas de acção a que as escolas
associadas têm acesso são as oficinas científicas, com as
quais se pretende explicar princípios científicos a partir de
aplicações tecnológicas simples. A dinâmica dos fluidos,
por exemplo, é demonstrada com o auxílio de um pequeno avião
em madeira ali construído, e o princípio das ondas sonoras com
a construção de um rádio e respectiva sintonização
da emissão. Este interessante trabalho prático inicia-se na área
do Visionarium onde se apresenta o princípio científico a abordar
na oficina e, já no Experimentário, os participantes recebem um
dossier e um kit de construção que, depois de montado, poderá,
em alguns casos, ser levado para casa. Além de usufruirem de um desconto,
as escolas podem requisitar a realização destas oficinas no próprio
estabelecimento de ensino.
O clube Visionarium propõe-se também a envolver
as escolas associadas em projectos científicos de cariz experimental,
através de concursos temáticos, avaliados por júris profissionais.
A construção de uma estação meteorológica
ou de um gerador electromagnético com materiais simples e baratos são
apenas alguns dos desafios propostos.
Outra das ideias passa por um concurso televisivo, cujo tema
será a "Conquista das Cinco Odisseias", destinado às escolas do
3º ciclo e ensino secundário, que se farão representar por três
alunos e por um professor. O concurso terá uma periodicidade semanal
e a equipa vencedora terá o direito a levar uma das mascotes científicas
do visionarium para "casa" - como símbolo do conhecimento - e a figurar
num placard com as melhores classificações, a ser actualizada
em cada programa.
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