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Ética e Vida

Que vantagens obtém um jovem saudável em saber que virá a sofrer de doença incurável?

'Tem os anos contados, a sociedade a olhá-lo de soslaio, os empregadores a sonegar-lhe trabalho, as seguradoras a retirar-lhe o apoio. Teria sido melhor não saber?'.

Estas foram algumas das interrogações levantadas pelo presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) na sessão de abertura do seminário sobre 'Poderes e Limites da Genética', que recentemente decorreu em Lisboa.

Luís Archer aludia à possibilidade de, através de testes genéticos, se anteverem num dado momento as doenças que se manifestarão vários anos mais tarde, de ler no genoma de um ovo acabado de se dividir o destino traçado para o futuro ser e/ou para os seus eventuais descendentes. 'É a sina que se lê, não à superfície da pele, mas na intimidade do DNA. É a profecia do que há-de vir. Genes são o futuro escrito já hoje'.

Dito de outro modo, a genética possui um ëpoder de previsãoí que, conjugado com o seu emergente ëpoder de mudançaí (de introduzir no Homem genes que ele não possuía inicialmente, de o reconstruir no interior do genoma) lhe confere a máxima soberania - agir sobre o Homem. Ainda mais efectiva quando for integralmente identificada a sequência dos três mil milhões de unidades constituintes do genoma humano, que se anuncia como a grande aventura científica do virar do milénio.

'Será a Enciclopédia do Homem', considera o presidente do CNECV, explicando que se poderá 'determinar a raiz profunda das mais de quatro mil doenças hereditárias já conhecidas e caracterizar outros genes até agora insuspeitados'.

Passada de gigante

Como ciência da hereditariedade, a genética deu os primeiros passos no início do século, procurando a razão por que uma criança tem os olhos da mãe ou nariz do pai. A causa foi primeiramente localizada nos cromossomas das células, em zonas denominadas ëgenesí.

Entretanto, por meados do século, a dissecação dos genes permitiu a identificação da molécula responsável pela hereditariedade - DNA -e a caracterização do seu funcionamento. Já na década de 70, a análise molecular possibilitou, em combinação com outras descobertas, o despertar da engenharia genética, pela qual se viria a conseguir a modificação de microrganismos, plantas, animais e do próprio Homem, ou a sua reprodução exacta (clonagem).

'Estes progressos da nova genética começaram a ter profundas repercussões na Filosofia, na Religião, na Sociologia, no Direito, na Economia, na Indústria e até na política. E a genética tornou-se poder', considera Luís Archer, adiantando que esse ëpoderí se manifesta pela capacidade de conhecer intimamente o Homem, prever o seu futuro e alterar a sua constituição genética.

Contudo, 'a pessoa humana e a sua dignidade transcendem os seus genes', alerta Luís Archer, defendendo que 'as características de cada indivíduo se devem também ao ambiente, à educação e aos pressupostos culturais do seu meio' e que os limites do ëpoderí da genética radicam em valores éticos - por isso, a recente Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos do Homem da UNESCO.html">UNESCO.html">UNESCO determina que não a dignidade dos indivíduos não seja reduzida às suas características genéticas.


  
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Redacção

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