"das errâncias”. Assim se chama a exposição de fotografia que vai inaugurar no próximo sábado, às 19 horas, no Passevite White Cube, em Lisboa. A mostra, que vai estar patente até 11 de fevereiro, reúne alguns trabalhos de um colaborador da PÁGINA, que tem na fotografia uma das suas paixões.

“de máquina em punho descia a ladeira decidido a voltar para casa. o sol tinha partido há pouco. ficava sempre inebriado com aquele céu, com aquela luz morna, que parecia emergir das profundezas do mar, coada pelo deambular lento das nuvens. não conseguia definir o que sentia e vivia perante a magia da atmosfera que ali estava criada. apenas conseguia perceber que havia delicadeza, fragilidade e beleza naquele líquido instante de vida. naquela quieta dimensão das coisas.

ainda suo e doem-me as mãos. caminhara horas no meio da vida, nos labirintos das cidades, em busca de coisas simples. de incandescentes sinais nos beijos esparsos e nas flores breves. descanso, por instantes, numa velha cadeira. vislumbro a próxima luz a inundar a romãzeira do longínquo quintal da infância. tudo é, agora, mais distante. reforço a ideia de que para viver é preciso ver viver, estar na confluência de rios doces e brancos e da imaginação de tudo.

vejo uma criança de encontro às cores daquele céu. invetivo-me e vocifero quando perco instantes únicos, irrepetíveis. sou um cão cheirando todos os cantos e esquinas. espero, disparo, espero, disparo. e vivo com a ansiedade, a alegria, o desespero, o alívio. e com o acelerar do latejar do coração no corpo quase todo. quando, no final dos dias, se aproxima a quietude de tudo, dou por mim a pensar que existir é prosseguir, sem nunca poder regressar ao nascer do mesmo sol.”

Assim é esta exposição de fotografia de Domingos Fernandes.