O cinema é o refúgio de imagens que transformamos em realidades de lugares por onde nunca andamos, de pessoas com quem não falamos, de narrativas que podemos contar e lembrar. Como o patrimônio, o cinema é memória.
Você pode agora estar-se perguntando como o cinema pode, em realidade e magia, penetrar o universo educacional da sala de aula. Como seria uma escola que também pudesse se expressar na língua do cinema e não somente na língua dos livros? Que educação é essa que se está promovendo no cinema, na televisão, na sala de aula? Essas questões parecem persistir depois de tanto tempo e de tantas experiências. Será que o olhar cinematográfico enriquece nosso olhar sobre a educação e sobre o processo escolar? O cinema pode ser definido como uma educação informal, que necessita de uma metodologia para melhor aproveitamento na sala de aula. O cinema atua como um elemento de aprimoramento cultural e intelectual dos docentes e dos discentes. E, ao mesmo tempo, problematiza a ciência da história. O cinema, como o local da memória, é o refúgio de milhares de imagens que transformamos em realidades, memórias de lugares pelos quais nunca andamos, de pessoas com as quais não falamos, mas repletas de narrativas que podemos contar e lembrar. Por constituir-se em uma educação da sensibilidade, o cinema cria raízes profundas na forma como percebemos o mundo, como nos lembramos do mundo, de lugares, de personagens. O cinema, enfim, é memória. E nesta perspectiva ele pode e deve debruçar-se sobre o patrimônio cultural das comunidades, reforçando ao mesmo tempo a memória coletiva da população e um potencial recurso para o seu futuro. O desafio hoje é, antes, melhor integrar a proteção e valorização do patrimônio numa abordagem local do desenvolvimento.
Recursos a valorizar. Como sabemos, ao patrimônio físico e construído se junta tudo o que a história transmitiu, a cultura na sua dimensão imaterial: língua e costumes, folclore, tradições musicais e artísticas, danças, produtos caseiros, especialidades culinárias, sem esquecer evidentemente o artesanato, os ofícios e os antigos saber-fazer. Esta diversidade é também territorial: cada cidade e/ou região possui o seu caráter próprio, uma “alma” que faz muitas vezes o orgulho dos habitantes e atrai o visitante exterior. Os edifícios e monumentos antigos foram construídos para responder às necessidades sociais, econômicas e culturais das gerações que nos precederam. Encarnam o esforço de desenvolvimento de uma época. Representam também um recurso importante e uma fonte de inspiração para aqueles que hoje intervêm nesse mesmo sentido. O patrimônio é, pois, um recurso a valorizar. E o cinema pode dar uma contribuição valiosa nesse sentido, registrando o orgulho das comunidades, o sentido da continuidade histórica. O cinema pode fazer a sua parte a favor da reabilitação do patrimônio, da redescoberta da sua autenticidade e de um novo respeito pelo passado. Patrimônio e desenvolvimento local devem funcionar em parceria. Os programas de desenvolvimento precisam integrar na sua abordagem a valorização do patrimônio, travar as ameaças que o põem em perigo e valorizá-lo tanto quanto possível. Ao se defender o patrimônio deve-se ter em conta as necessidades do desenvolvimento local e do aproveitamento de todas as oportunidades que se apresentam para sua preservação e difusão.
Resgatar a memória. Tendo em conta que cada cidade e/ou região tem os seus monumentos, escolas, bibliotecas, costumes, paisagens naturais, contos e lendas, artesãos, gastronomia e que as pessoas que são dessa cidade e/ou região, gostam desses elementos culturais e também gostam de mostrá-los a quem a visita, pode-se imaginar que alguém queira visitar a sua cidade e/ou região, e queira ver e contatar com esse patrimônio. Nesta perspectiva, o professor pode, por exemplo, realizar alguma atividade com os alunos, procurando incentivá-los a recolher as informações necessárias para realizar um pequeno filme de cinco minutos onde vai procurar resgatar a memória histórica da sua comunidade. O aluno pode escolher um ou vários elementos desse patrimônio de que goste especialmente. Pode discutir com outros colegas, ou pode também trocar ideias com colegas de outras escolas até chegar a uma decisão final. O que ele filmaria (lugares, paisagens, monumentos, ...)? Entrevistaria personagens da comunidade? Quem seriam essas personagens? Que perguntas lhes faria? Que título daria a seu filme? Introduziria alguma trilha sonora?
José Miguel Lopes
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