A imprensa pedagógica e a sua contribuição para o património histórico educativo foi o grande tema das III Jornadas de Estudo sobre Imprensa Pedagógica, encontro internacional promovido pela Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca, que reuniu cerca de 170 participantes. A PÁGINA participou numa mesa-redonda.
Ao longo de três dias (18 a 20 de outubro), investigadores de todo o mundo analisaram e lembraram a importância da imprensa dos professores, formativa, científica e sindical. As revistas para professores e a renovação pedagógica, a importância das revistas dos sindicatos, a formação da opinião pública e os casos da imprensa em Portugal e Itália foram alguns dos temas abordados em painéis. A PÁGINA esteve presente na mesa-redonda “As revistas para professores e a renovação pedagógica”. Isabel Baptista foi uma das convidadas, sendo acompanhada por Luís Torrego (Cuadernos de Pedagogia, Barcelona) e Carmen Romero (OGE - Organización y Gestión Educativa, do Fórum Europeu de Administradores da Educação), que começaram por contar a história de cada uma das publicações e destacar as suas características – por parte das três publicações convidadas foi afirmado o compromisso com a renovação pedagógica. Isabel Baptista apontou as preocupações que a PÁGINA sempre teve ao nível das políticas educativas, das relações pedagógicas e da cidadania. “São 26 anos ao serviço da educação e da liberdade”, frisou a diretora da revista, que “pretende ser um espaço editorial de encontro, de partilha de ideias e de conhecimento” e que se pauta pelos ideais de Abril, da democracia e da solidariedade. A PÁGINA é um espaço que dá voz e que aborda a educação nas suas várias dimensões, permitindo o diálogo entre os diferentes olhares profissionais, referiu Isabel Baptista, lembrando a rede de colaboradores que compõem cada edição. Outro dos temas abordados foi o presente e o futuro das revistas para os professores e a grande questão: ‘digital versus papel’. Luís Torrego falou da importância dos Cuadernos de Pedagogia manterem a trajetória. “É importante que se mantenha, é importante que continue a haver revistas sobre questões verdadeiramente importantes, sobre uma escola transformadora.” Carmen Romero, por seu lado, espera continuar a difundir o entusiasmo da equipa. “Demos conta que os professores jovens não leem a revista, que cada vez leem menos em papel. Debatemos a questão do digital e do papel e decidimos manter o papel; adotámos um método misto”, explicou. A terminar, Isabel Baptista lembrou: “É importante a palavra impressa, mas o nosso compromisso é com a palavra esclarecida.” Tudo indica que 2021 será o ano das quartas jornadas, dedicadas à imprensa pedagógica que é produzida por distintas confissões religiosas – um tema muito interessante, nas palavras de José Hernández Diaz, presidente do comité organizador. Faltam três anos, mas “o tempo passa rapidamente”, pelo que o convite fica já feito.
©Universidade de Salamanca
Ora diga lá... JOSÉ HERNÁNDEZ DÍAZ
Como surgiu a ideia de umas jornadas dedicadas à imprensa pedagógica? Estas jornadas não são improvisadas, têm um largo caminho percorrido. Nasceram há mais de dez anos, com o grupo de investigação Helmantica Paideia, da Universidade de Salamanca. Começámos a desenvolver vários projetos em torno da imprensa pedagógica, em Castela-Leão e em toda a Espanha, e gerámos publicações e artigos. Mas em 2012 também surgiu a necessidade de convidar colegas de todo o mundo para esta reflexão histórica e do presente sobre o papel da imprensa pedagógica, o papel educativo e o papel profissional, porque não se pode desvincular a imprensa pedagógica da construção da profissão docente – é um elemento substantivo, um elemento da identidade do professor. Isso conduziu-nos à organização das primeiras jornadas sobre imprensa pedagógica, em 2013. A partir daí vimos que é uma linha de trabalho de investigação magnífica e muito pouco explorada em todo o mundo, o que nos levou a um segundo congresso (2015), no qual já começámos a pensar de maneira mais especializada na imprensa que produziam, ou que tivessem produzido, as crianças na escola, os adolescentes nos institutos e nos centros de ensino secundário ou os alunos da universidade. Foi um êxito muito grande e há três anos decidimos continuar a analisar a fundo a imprensa sindical, a imprensa pedagógica, a imprensa formativa, a imprensa científica, dirigida aos professores. E o resultado são estas jornadas.
Qual o papel da imprensa pedagógica? É um papel fundamental na construção da profissão de professor. É imprescindível que os professores se dotem de instrumentos de comunicação pedagógicos, de debate político, de debate sobre novidades metodológicas, de difusão de novidades técnicas, de intercâmbio, de experiências. É um elemento absolutamente necessário na vida quotidiana dos professores e das escolas de qualquer país.
Numa altura em que a informação é mais imediata, como se posicionam os jornais e as revistas pedagógicas? Como vê a questão do papel vs. digital? Uma informação digital, nas redes ou pela forma que seja, que deve ser uma informação curta e concreta, geralmente não é reflexiva, não ajuda o professor a pensar serenamente, com tranquilidade, de forma repousada, como acontece com a PÁGINA, com os Cuadernos de Pedagogia e com outras. Então, é um instrumento de ajuda para pensar com cautela as mudanças, as reformas, as novidades, os intercâmbios, para que se façam as coisas com maior e melhor critério. Está provado que a leitura digital é imediata, é rápida, mas é muito pouco reflexiva. Não é o mesmo ler um artigo importante em digital ou em suporte de papel, de maneira repousada, voltar a ler, sublinhar, tomar notas. O suporte papel é mais lento, mas é mais intenso e mais profundo. Por isso, creio que os dois modos de leitura são perfeitamente compatíveis, porque desempenham funções intelectuais distintas.
Maria João Leite
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