|
Torna-se incontornável a adoção de um novo paradigma educacional que priorize o ser crítico, reflexivo e ético face às dinâmicas socioculturais e político-económicas, em detrimento do ser que se preocupe apenas com o saber técnico específico e especializado.
Do ponto de vista teórico, muitas das práticas educacionais ditas interdisciplinares estão frequentemente mais próximas do conceito de multidisciplinaridade do que de inter ou transdisciplinaridade. No ensino pré-universitário atual, em fase de reformas, a tendência parece ser a existência de experiências que aproximam as disciplinas em torno de um tema. Porém, se os professores não dialogarem, não inter-relacionarem os seus conteúdos e as suas práticas e não levarem o estudante a estabelecer relações complexas na sua aprendizagem, então o pensar e o agir seguirão compartimentados. Também nos contextos de formação superior dos educadores sociais, o desafio é construir práticas interdisciplinares que promovam de facto a produção de conhecimento interdisciplinar. Ora, na literatura, tem sido referido que esse processo pode ser espoletado através de ações de operacionalização diversas, tais como: sensibilização dos especialistas para acolher a contribuição das outras disciplinas; incentivo a atividades de formação extramuros do novo profissional interdisciplinar; consolidação de uma estrutura curricular por assunto ou problema; e, entre outras ideias, adoção de práticas de integração professor-professor, aluno-aluno; professor-aluno. Em relação aos sujeitos com os quais o educador social vai trabalhar, são heterogéneos e de diversas etnias, culturas, religiões, idades, desejos, apresentando condições sociais e económicas também diversas. Neste sentido, aumenta exponencialmente a necessidade de promover na formação do educador o desenvolvimento de capacidades e atitudes interdisciplinares, junto com ferramentas de comunicação interpessoal e de animação comunitária, pois a diversidade dos sujeitos e as suas especificidades requerem do educador social um olhar, uma escuta e uma ação recetiva a essas diversidades.
Neste alinhamento, torna-se incontornável a adoção de um novo paradigma educacional que priorize o ser crítico, reflexivo e ético face às dinâmicas socioculturais e político-económicas, em detrimento do ser que se preocupe apenas com o saber técnico específico e especializado. Os educadores, devido à posição estratégica que ocupam na sociedade, necessitam de estar constantemente atentos, tornando-se pesquisadores reflexivos e críticos no âmbito do desenvolvimento da sua própria prática. Trata-se de acompanhar as novas exigências hodiernas a favor de um novo vínculo pedagógico e social, visando a busca de sociedades democráticas mais consolidadas e capazes de não abrir mão de uma convivência plural e tolerante, que anseia pela justiça social, e uma distribuição de riqueza equitativa e pacífica. Dito de outra forma, no mister do educador social é essencial abordar temáticas variadas da sociedade globalizada, pelo que atitudes e capacidades interdisciplinares e interprofissionais auxiliam no seu trabalho, permitindo-lhe ter uma visão ampla da realidade e da condição sociopolítica dos sujeitos que a constituem. Outro ponto importante é que o educador, ao exercer a sua atividade profissional nas instituições, interage frequentemente com profissionais de outras áreas. Ora, ao fazer isso com capacidades e atitudes desenvolvidas numa perspectiva interdisciplinar, as possibilidades de resultados pertinentes e significativos para os coletivos em ação aumentam. Com efeito, uma das dificuldades nos ambientes de trabalho, e entre setores e ramos é a falta de diálogo, comunicação e integração cooperativa entre os profissionais. Porém, a interlocução e aprendizagem colaborativa entre os agentes envolvidos nas questões relativas à pedagogia/educação social é fundamental para a concretização das ações transformadoras dos fatores que geram condições múltiplas de exclusão social.
Ou seja, os graves problemas que afetam o mundo atual, por exemplo, ampliação de preconceitos, desmultiplicação de violências às minorias, austeridade após crises económicas que fragilizam ainda mais as populações com menores condições socioeconómicas, expansão de problemas ambientais severos, aumento da violência doméstica, desrespeito dos direitos dos idosos com crescente idadismo, incremento de conflitos étnicos, aumento de ondas migratórias e tráfico humano, proliferação de governos ditatoriais de direita e de esquerda, entre outros problemas que reclamam mudanças societais urgentes, colocam ao educador social hodierno, e a todos os profissionais, o desafio da dialogicidade e da cooperação para o enfrentamento consequente e em rede desses e outros problemas. Os conhecimentos, atitudes e capacidades que a vivência interdisciplinar possibilita desenvolver, podem auxiliar na construção de alternativas que constituam soluções viáveis para preservar os direitos humanos e dos demais seres vivos, a liberdade de expressão e de manifestações culturais e o equilíbrio ecológico do nosso planeta. Isto é, podem auxiliar a pensar interdisciplinarmente e a agir interprofissionalmente em prol de um mundo melhor.
Rosanna Barros
|