A IGD ainda não é reconhecida oficialmente como perturbação. Em todo o caso, existem já instrumentos de avaliação que permitem conhecermos os primeiros mapas epidemiológicos do fenómeno e que revelam prevalências preocupantes.
A primeira fase tem a ver com o deslumbre e o fascínio que as novas possibilidades tecnológicas acarretam. A internet e a multiplicação de ecrãs definem um infinito campo de potencialidades. Elenquemos algumas motivações: o lúdico, a interação social, mas também a pesquisa, a comunicação, a educação em geral – e a Educação para a Saúde em particular. Neste espaço, abordámos algumas: a necessidade de trabalhar valores e escolhas basilares como a amizade, as relações ativas no contexto virtual, a capacidade de localizar, no virtual, informações fidedignas e funcionais... A perspetiva preventiva foi um denominador comum a esses momentos. Debruço-me hoje sobre comportamentos disruptivos, mais concretamente, a dependência e os comportamentos aditivos que podem ser gerados através da utilização dos meios tecnológicos. Estes novos quadros emergentes são definidos a partir de conceitos tradicionalmente utilizados a propósito das dependências químicas: tolerância, escalada, síndrome de privação. Isto, além das dificuldades em aceitar o problema e a vivência muito própria do tempo, entre um sem número de problemas. O DSM V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) socorre-se de diversos critérios para definir a Internet Gaming Disorder (IGD). Fá-lo em analogia a dependências químicas mais conhecidas, como por exemplo a heroínodependência: - preocupação com os sintomas de dependência aquando da interrupção do comportamento de jogo; - tolerância relativamente ao aumento sucessivo do tempo dedicado à atividade; - existência de tentativas infrutíferas para interrompê-la, entre outros critérios. A IGD ainda não é reconhecida oficialmente como perturbação. Trata-se, isso sim, de uma área em que se recomenda mais investigação, tendo em vista a clarificação do quadro. Em todo o caso, existem já instrumentos de avaliação que se fundamentam nos critérios anteriormente enumerados e que permitem conhecermos os primeiros mapas epidemiológicos do fenómeno. Eis alguns números recolhidos por Pontes, Macur & Griffiths: 8,5% de jovens americanos entre os 8-16 anos apresentam este quadro; idem em 5,5% dos jovens holandeses entre os 13-20 anos; ibidem em 4,3% de jovens húngaros. Além dos detalhes metodológicos e nosográficos ainda por limar e “consensualizar”, a verdade é que se trata de prevalências preocupantes e que nos compelem à exploração, tanto mais que se trata apenas de uma forma muito específica de comportamento internáutico, passe a expressão. Sugere-se, assim, que se introduzam interrogações sobre estes temas qualquer que seja a nossa profissão: professores, psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e tantos outros.
Rui Tinoco
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