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Valorizar eticamente o ambiente

“Se devemos afirmar que somente os seres humanos têm dignidade moral intrínseca, é preciso acrescentar que esta dignidade não pode ser cumprida se uma primeira condição não for satisfeita, a da sobrevivência da humanidade nas melhores condições possíveis.”
(Denis Dumas)

Os seres humanos nunca deixaram de se interrogar sobre as normas e os valores que têm pautado as suas relações com a Natureza. É desta maneira que, nas últimas décadas, têm ocorrido mudanças na representação social da Natureza e dos desenvolvimentos técnicos e científicos, cujas repercussões sobre a transformação e alteração daqueles são por demais evidentes. No entanto, e paralelamente, procura-se desmistificar esse facto, passando a ideia que os efeitos sobre o ambiente são quase inócuos e sem riscos.
Podemos dizer que, embora a Natureza tenha recursos limitados que é necessário proteger, não se deve, simultaneamente, deixar de assegurar um desenvolvimento económico satisfatório, ou seja, é necessário um encontro entre a economia e a filosofia do ambiente. Por outras palavras, compete à economia do ambiente identificar as melhores práticas de gestão, para que a proteção dos recursos naturais seja assegurada e, ao mesmo tempo, aumente o bem-estar do Homem contemporâneo e, por extensão, o das gerações futuras.
Para o efeito, uma ética do ambiente assente sobre as noções da responsabilidade e do dever parece ser o princípio orientador de práticas que respeitem e preservem a diversidade dos recursos naturais. Atualmente, público e governos interessam-se cada vez mais pelo ambiente, e, por este facto, novas leis sobre o tema são promulgadas e novos acordos entre países são assinados.
Porém, antes que leis ou acordos surjam ou sejam aplicados, deve desenvolver-se todo um processo de multianálise sobre os respetivos efeitos, incluindo reflexões sobre as escolhas e as questões de ordem moral e social às quais economistas, políticos e ambientalistas, etc., devem fazer face.

Questionamento ético. Uma pergunta surge imediatamente quando se consideram decisões políticas que venham a ter um impacto sobre o ambiente: é necessário (ou não) ter em conta as consequências e as repercussões que estas decisões têm sobre a envolvente, as sociedades atuais e as sociedades futuras?
Muitas outras questões podem ser colocadas: o Homem de hoje deve preocupar-se com o de amanhã? Temos nós o direito de tomar decisões que podem comprometer a saúde das populações atuais e futuras, bem como a qualidade do ambiente? Podemos nós impor encargos e obrigações aos indivíduos que ainda não nasceram? Estamos, bem entendido, em presença de um questionamento ético, em que estas e muitas outras perguntas, relativas às ações do Homem sobre o ambiente, devem ser objeto de uma reflexão, acima de tudo ética.
Não podemos deixar de considerar que estas e outras questões têm tido respostas ambíguas por parte dos mais diversos atores e intervenientes e que o próprio debate sobre a questão ambiental, aberto há mais de 30 anos, se tornou atualmente quase um fenómeno de moda, sem avanços significativos na causa do equilíbrio ambiental. Assim, parece evidente que este vasto e complexo processo em torno da consideração de uma dimensão ética que presida a escolhas e decisões ambientais só poderá evoluir positivamente se se pautar pelas necessárias mudanças socioculturais. Estas dependerão de campanhas fortes que levem as populações à tomada de consciência relativamente ao tema ambiental e, em particular, de ações nas escolas que promovam a sensibilização dos alunos face a esse mesmo tema, incluindo a sua abordagem e inclusão nos currículos escolares.
Em suma, trata-se de procurar, junto das gerações mais novas, caminhos de natureza ética que possam levar ao equilíbrio Homem-Natureza, uma vez que esta é a única via que permitirá preservar a qualidade do ambiente, tendo em conta a necessária compatibilidade com os modos atuais de vida e com o desenvolvimento económico, científico e tecnológico. Só fazendo atuar (nos seus próprios interesses) as crianças e os jovens em idade escolar nos parece ser possível preservar os recursos ambientais para as gerações vindouras.

António Mendes Lopes


  
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