Estamos a falar de mediação como um processo que tem autonomia para além da resolução alternativa de conflitos. Por isso, o mediador empodera, previne tensões e conflitos e resolve choques de cultura entre as partes e constitui uma pedra basilar no sucesso da formação em contexto de trabalho.
Na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, estamos no último semestre da licenciatura em Educação Social e os nossos estudantes estão a estagiar, a sentir o terreno, a conhecer os contextos, a conhecer pessoas com quem vão trabalhar futuramente; enfim, a tentar pôr em prática o que foram ouvindo, estudando e refletindo ao longo dos semestres anteriores. É a altura de entrar, mergulhar no mundo do trabalho, da profissão, do que é ser Educador Social. Não é fácil começar, não é fácil ser estagiário e não é fácil ‘voar’, ainda que, desta primeira vez, baixinho e com rede de proteção e prevenção de quedas. A rede é constituída pelo orientador da instituição que escolheram para o primeiro contacto com a profissão e com a realidade e pelo supervisor da instituição de Ensino Superior, neste caso a ESECS. O primeiro orienta todo o trabalho efetuado durante o estágio e o segundo, o supervisor, procura criar pontes de comunicação entre todos. Entre o orientador e o estagiário, entre a instituição de acolhimento e a instituição de formação e profissionalização, e entre o próprio supervisor e o orientador do terreno, para que consigam elos de contacto, comunicacionais, cognitivos, valorativos e avaliativos, para que a formação do novo educador social seja concertada. Em boa verdade, o supervisor faz uma aproximação ao orientador, in loco, para conhecer quem ele é, como pessoa e profissional, como trabalha, saber do seu perfil profissional, etc. E tudo isto num processo dinâmico entre o polo mais formal do contacto institucional inicial até ao modo mais informal e operatório. No fundo, o supervisor procura conhecer a pessoa que está por detrás do profissional para traçar caminhos de interação, inter-compreensão e desenvolvimento do estágio curricular e do próprio estagiário, a par do desenvolvimento do orientador e do próprio supervisor. E este exercício é fundamental para a realização de todos os envolvidos e para a eficácia do processo.
Ser (trans)formador. Estamos a falar da criação de competências culturais, interculturais, de interação positiva, de criação de empatia, de proximidade entre estes dois profissionais e de múltiplas intercompreensões da triangulação estagiário, orientador, supervisor, instituição de acolhimento e instituição de Ensino Superior. Fundamental, também, é conhecer muito bem o estagiário e criar uma relação de proximidade, para que ele veja no supervisor alguém que, não estando presente fisicamente, está sempre acessível e disponível para um trabalho que é conjunto. Por isso é tão importante o contacto semanal, no mínimo, através de um exercício de escrita, onde se promove a reflexão sobre o trabalho desenvolvido no estágio, e de uma autorreflexão sobre as suas práticas, numa tentativa de aumentar o seu autoconhecimento e, também, para iniciar o traçar de um estilo profissional. O supervisor tem de se envolver com o estágio do seu estudante; tem de ouvi-lo, ouvi-lo muito... tranquilizá-lo, responsabilizá-lo, dizer-lhe que é capaz, incentivá-lo, enfim, trabalhar com ele, e para ele, no sentido da sua autonomização e do seu empoderamento como futuro profissional que vai ser. O supervisor cria, assim, também, pontes de comunicação entre estagiário e orientador. Estamos a falar de mediação como um processo que tem autonomia para além da resolução alternativa de conflitos. Por isso, o mediador – intercultural, neste caso – empodera, previne tensões e conflitos e resolve choques de cultura entre as partes e constitui uma pedra basilar no sucesso da formação em contexto de trabalho. E, claro, é muito gratificante sair de uma instituição onde temos um estagiário e ver que ele já não é o mesmo de há uns meses; que se formou, se reconfigurou e, por isso mesmo, se (trans)formou.
Ana Vieira
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