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Know where

Saber localizar com celeridade informações necessárias à nossa performance profissional é cada vez mais importante.

Noutras ocasiões, tracei algumas notas sobre o conceito de know where, ou saber onde, e as suas implicações nos temas da educação para a saúde, que costumamos abordar neste espaço... Rapidamente: numa era em que o acesso à informação é cada vez mais acessível e omnipresente, às competências do saber fazer acrescem outras relacionadas com o saber onde. Saber localizar com celeridade informações necessárias à nossa performance profissional é cada vez mais importante.
Existem já estudos que atestam que, em determinadas situações experimentais, relacionadas com a utilização da internet, as dimensões relacionadas com informação concreta são preteridas em benefício da memória da forma como se pode obter essa mesma informação – consulte-se, por exemplo, Possible effects of internet use on cognitive development in adolescence, de Kathryn L. Mills (2016). Abordei essa questão, mas normalmente, nos textos que li, o know where é abordado como uma competência relacionada com a situação de aprendizagem. Na verdade, porém, nada impede de ser uma competência relacionada com o processo de ensino.
O título deste texto faz referência a um trabalho do sociólogo Erving Goffman, traduzido para a nossa língua como A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias. Nele, o autor estuda determinados comportamentos e normas que o ‘eu’ profissional tende a observar, nomeadamente no interior das chamadas equipas de desempenho.

Mudança de atitude? Podemos considerar que o ‘saber onde’ pode influenciar a forma como os professores se apresentam no seu contexto profissional.
Eu próprio tive esta perceção quando, numa aula de aprendizagem de uma língua estrangeira, a professora não tinha qualquer problema em, no meio de uma aula, quando confrontada com alguma questão que lhe suscitasse dúvidas, consultar a internet. E a partir dessa consulta desenvolvia as suas explicações.
Tratava-se de gestos naturais que a professora, muito jovem por sinal, fazia sem sequer pensar muito neles. De qualquer forma, a imagem de alguém que sabe mais do que os alunos, numa assimetria constante, em que não é expectável dar parte de fraco, não passava sequer pela cabeça daquela profissional: quando os seus alunos lhe pusessem uma questão a que não sabia rapidamente responder, era-lhe natural consultar o computador, em plena sala de aula, e a partir da informação recolhida posicionar-se sobre uma dada questão.
Não nos surpreendamos: à medida que a geração que convive desde o seu nascimento com as novas tecnologias, em que o ‘saber onde’ passou a ser um conceito central na sua aprendizagem e desenvolvimento de competências, uma vez instalados no papel complementar de professor, a utilização do ‘saber onde’ passa a ser uma ferramenta normal e funcional no desenvolvimento da sua atividade.
Assim, poderemos estar perante o início de uma mudança da forma como o educador ou o professor se apresenta na sua atividade quotidiana. O ‘saber onde’ implica o aluno na rede, em que saber localizar informação se torna uma das competências nucleares, da mesma forma o professor pode passar a ser encarado nos mesmos termos binários.

Rui Tinoco


  
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