A ideia de abrir a Escola a novos profissionais é hoje aceite e defendida por todos os que compõem a comunidade educativa.
A emergência do Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF) em algumas (poucas) escolas do nosso país ocorreu há pouco mais de uma dúzia de anos. Daí que, naturalmente, ainda escasseiem estudos sobre o impacto da sua implementação. Neste contexto, tínhamos o mote lançado para a nossa investigação, no âmbito da obtenção do grau de mestre em Mediação Intercultural e Intervenção Social, mestrado pioneiro no país, pela Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Considerando a filosofia de mediação inerente à criação destes gabinetes, e observando a diversidade como cenário do palco da Escola atual, o grande desafio consistiu em perceber, através de um estudo de caso etnográfico realizado num agrupamento de escolas considerado território educativo de intervenção prioritária (TEIP), em que medida o GAAF é entendido como campo de possibilidade(s) para a mediação intercultural. Com efeito, a estada no terreno, cerca de um ano e meio, foi reveladora. Adotando uma metodologia compósita, assente num paradigma hermenêutico, que privilegiou a observação participante e a entrevista semiestruturada, conseguimos perceber junto dos sujeitos auscultados – alunos, famílias, professores, diretor, psicóloga, técnico de serviço social e parceiros da comunidade – o reconhecimento, o mérito e a importância do GAAF, que conta com a enorme entrega dos seus técnicos, num sincero “amor à camisola”, por gostarem e, sobretudo, acreditarem naquilo que fazem. Descobrimos que os pilares sobre os quais se desenvolve a missão deste gabinete, designadamente o acolhimento, o acompanhamento de proximidade com aposta na relação com o outro, a articulação, a prevenção e a transformação, são dimensões da mediação intercultural que dependem muito, ou mesmo, totalmente, do perfil desses profissionais, verdadeiros missionários sociais.
Oportunidade de mediação. Na verdade, a ideia de abrir os portões da Escola a novos profissionais é, hoje, comummente aceite e defendida por todos os sujeitos que compõem a comunidade educativa. Por um lado, temos os professores, confessadamente desmotivados para assumir novos papéis; por outro, temos as famílias, atualmente mais plurais, ora completamente sôfregas numa tentativa de equilíbrio entre responsabilidades parentais versus exigências profissionais, ora totalmente negligentes face àquele dever, ou, ainda, marcadamente distantes da cultura escolar dominante. Por sua vez, temos os próprios profissionais (mediadores, psicólogos, técnicos de serviço social, educadores sociais) verdadeiramente empenhados em propalar novos paradigmas de intervenção, alicerçados na mediação intercultural. Por último, temos aquele que deveria ser o protagonista, o aluno (criança, jovem), provavelmente o mais interessado em novas pedagogias, amiúde distante das paredes da sala de aula. Cabe, assim, à Escola – e aos decisores políticos – acolherem, sem ressalvas, estes novos profissionais e com eles criarem laços. Não obstante a demora na visibilidade de resultados imediatos, intrínseca a qualquer projeto social, o GAAF pode, efetivamente, constituir-se como uma oportunidade, como um caminho para a mediação intercultural, na medida em que adota práticas catalisadoras e empoderadoras da(s) diversidade(s) que habita(m) a Escola contemporânea, onde se incluem não apenas os alunos, como as respetivas famílias e também a própria comunidade. Aproveitando os ventos de mudança que sopram, urge que cada escola construa o seu moinho de vento.
Patrícia Simões
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