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Redes sociais e espaços institucionais de aprendizagem

Tem sido indiscutível o sucesso de redes sociais como o Facebook entre jovens e adultos, especialmente em termos de adesão, fruição, engajamento e participação contínua, aspectos almejados por professores em instituições formais de educação. Assim, seria razoável pensar que a inclusão de redes sociais nestes espaços contribuiria para a resolução de muitos problemas das escolas de hoje. Embora pareça simples, a transição dessas mídias pelo continuum não institucional e institucional envolve reflexões sobre educação formal e aprendizagem.
Acreditamos que o maior desafio para a inserção de redes sociais em instituições de educação consista na indispensável manutenção do potencial de autoria, autonomia, coletividade e colaboração inerente a tais espaços digitais – mas não necessariamente inerente a contextos educacionais.
As redes sociais possibilitam a vivência de complexas experiências relacionais multimodais: as pessoas formam redes de contatos, reforçam laços de relacionamento ou estabelecem novos, batem papo, postam no seu mural e nos murais alheios, publicam suas ideias ou divulgam ideias de outros autores, comentam, discutem, trocam materiais. Enfim, elas constroem e participam de comunidades online, consomem e produzem conteúdos multimodais hipertextuais e negociam vivências coletivas nesse tipo de habitat virtual, no qual praticamente todos os usuários possuem semelhantes possibilidades e restrições tecnológicas de participação – enfatizamos “tecnológicas”, pois os jogos de poder de outras naturezas seguem vigentes, evidentemente, nas redes sociais.
Tais potencialidades, no entanto, podem contrastar de tal forma com os projetos educacionais de algumas instituições que a proibição do uso de redes sociais nesses espaços pode ser a alternativa mais adequada.
Partindo deste extremo para seguir ao longo do referido contiuum, podemos citar a existência de instituições que possuem páginas próprias no Facebook, mas não permitem que professores e alunos interajam por esse meio; em outras, o contato entre professores e alunos na rede social restringe-se a usos mais pessoais, longe do controle institucional – o que pode ser vantagem ou problema para professores e escola.
Há, ainda, iniciativas isoladas de professores, que passam a utilizar alguma rede social como suporte para suas práticas ou projetos de ensino. E é destes casos que gostaríamos de tratar, pois, atrelada à necessidade de reflexão acerca das concepções de ensino e aprendizagem subjacentes às práticas pedagógicas do professor, caberá ainda a ponderação acerca dos modos como as redes sociais poderão sustentar tais práticas e servir como espaço útil e complementar para o alcance de objetivos educacionais.
Nesse percurso reflexivo, algumas dessas práticas pedagógicas podem configurar-se como inadequadas a esse tipo de ambiente digital. Consideremos o seguinte exemplo: no grupo privado que criou para sua turma no Facebook, o professor publica uma pergunta para verificação de determinado conhecimento dos alunos, pergunta cuja resposta não demanda obrigatoriamente discussão ou tem poucas possibilidades de variação entre os alunos, tornando dispensável, portanto, a participação (mediante publicação de comentários) dos demais para mera repetição de respostas. Esse tipo de pergunta pode cumprir propósitos específicos para um professor, digamos, em uma prova escrita (não discutiremos os méritos desse tipo de pergunta em outros contextos).
Consideradas como típicas de contextos institucionais de ensino, perguntas como essa são comumente seguidas pela resposta do aluno (uma resposta conhecida e esperada pelo professor) e de uma avaliação por parte do professor (avaliação positiva se a resposta tiver sido a esperada pelo professor). Ao ser transposta para o grupo do Facebook, um espaço público compartilhado entre aqueles alunos e professor, esse tipo de pergunta pode contribuir para uma “escolarização” desse espaço e dos discursos lá produzidos, distanciando-o das funcionalidades e potencialidades interacionais que as redes sociais demonstram ter fora de atividades escolares. Nesse sentido, cabe ao professor repensar crítica e constantemente suas perguntas e demais práticas pedagógicas, orientando-se para a manutenção dos aspectos interacionais que tornam as redes sociais interessantes.
Inserir redes sociais na educação demanda, portanto, orientação para e aproveitamento de suas características e potencialidades, extrapolando a mera utilização de um espaço digital. Desvincular sua utilização das complexas experiências relacionais multimodais por elas possibilitadas, e que as caracterizam, acaba por esvaziá-las da própria denominação “redes sociais”, podendo passar a ser chamadas de ambientes virtuais de aprendizagem, como o Moodle e tantos outros.
E não estamos aqui criticando o Moodle, ambiente virtual de aprendizagem que há anos utilizamos como recurso online para nossas aulas presenciais e semipresenciais. Queremos, sim, destacar que redes sociais como o Facebook possuem facetas não escolarizadas que podem ser exploradas a favor da educação formal, se assim preservadas, podendo inclusive servir como complemento a ambientes virtuais tipicamente educacionais como o Moodle (Bulla, em preparação).

Gabriela da Silva Bulla e Lia Schulz


  
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