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Espaços naturais e de lazer de proximidade e qualidade de vida

Vivemos, em termos territoriais e nos países desenvolvidos, numa civilização caracterizada pela extensão urbana e pelo aumento das práticas de lazer. Por ser assim, grande parte das grandes cidades encontram-se num impasse, que passa pela necessidade de espaços naturais e/ou verdes de proximidade para usufruto do tempo livre dos cidadãos e para a melhoria da sua qualidade de vida. As grandes cidades portuguesas não escapam a esta constatação.

É por demais evidente, que, ao mesmo tempo que se processa a extensão urbana de forma muito rápida, os espaços de lazer e os espaços naturais são cada vez mais raros e estão mais distantes dos habitantes. É nas cidades – onde vive a grande maioria da população – que se torna urgente a implementação dos espaços de lazer para satisfazer o equilíbrio quotidiano dos cidadãos.
A procura destes espaços comporta diversos aspectos. Por exemplo, algumas necessidades manifestam-se durante o dia, outras ao fim de semana ou nos vários momentos de férias anuais. As crianças, os trabalhadores, as domésticas, os desempregados, os estudantes ou os reformados têm necessidades diferentes em matéria de recreação e ocupação do tempo livre. A maior parte destas necessidades apontam para que sejam satisfeitas diariamente na própria cidade; outras, menos, sê-lo-ão na região ou no campo envolvente.
Por outro lado, a recreação dos cidadãos urbanos é afectada directamente pela qualidade dos próprios recursos que estão disponíveis. Se as tendências continuarem a ir para o “betão” (construção de vias rápidas, emparedamento dos edifícios, utilização frequente dos terrenos livres exclusivamente para construir para habitação, comércio ou indústria), as áreas destinadas a eventuais espaços de recreação (verdes, azuis ou cinzentos) serão gradualmente reduzidas, ou mesmo inexistentes. Desta forma, acentuar-se-á a desfloração da cidade.
A ausência ou insuficiência de espaços verdes na urbe faz pesar sobre as populações que nela habita ameaças de ordem higiénica e social graves. A sua reduzida existência não contribui para restabelecer o equilíbrio psicológico e social dos citadinos, necessário para a vida moderna comum.

Corrigir desequilíbrios. Estes considerandos têm, antes de mais, o propósito de sublinhar os custos humanos, sociais e mesmo económicos que resultam da ausência de territórios específicos para as práticas de lazer e de espaços naturais/verdes de proximidade em quantidade suficiente.
Assim sendo, procuraremos mostrar sumariamente que é necessário corrigir insuficiências e desequilíbrios no que diz respeito aos recursos para fins de lazer. Vejamos quatro simples razões que justificam esta necessidade:
1. Os lazeres de ar livre devem poder integrar-se na vida quotidiana e próximo da residência. Diversas formas de lazeres (passeio, marcha, corrida, fotografia, etc.) correspondem a aspirações bastante vivas dos cidadãos que necessitam de espaços naturais na proximidade do meio de vida. Não parece normal que, por razões de inacessibilidade física, estas actividades não possam ser praticadas quotidianamente e em espaços não poluídos (ruído, gases, etc.).
2. Os cidadãos, individual e colectivamente, têm necessidade de estabelecer relações activas com a envolvente natural próxima. Não são os espaços residuais ou os terrenos de jogo, tais como existem actualmente, que podem permitir a satisfação destas necessidades legítimas de contacto com a natureza. São necessários espaços naturais ordenados e livres, suficientemente vastos, ricos e estimulantes e que estejam facilmente acessíveis.
3. Para reduzir as desigualdades sociais no acesso aos lazeres, é necessário, antes de mais, aproximar os cidadãos dos espaços naturais e dos locais de lazer. Por razões de ordem física (crianças, deficientes, pessoas de idade, etc.) e sobretudo por razões de ordem socioeconómica, bom número de cidadãos têm uma mobilidade muito reduzida e uma tolerância muito fraca à distância.
4. O processo de extensão urbana obrigará, tarde ou cedo, à recuperação da centralidade das cidades, nomeadamente dos espaços dedicados aos lazeres. Se é verdade que a região pode suplantar, até certo ponto, a penúria de espaços naturais em meio urbano, não se pode negligenciar que a proximidade de espaços de lazer na centralidade proporciona aos habitantes da cidade mais qualidade de vida e torna-a mais competitiva.

Reverter a situação. Independentemente dos espaços naturais de proximidade disponíveis para fins de lazer serem manifestamente insuficientes nas principais cidades portuguesas, e tendo em conta que os mesmos têm desaparecido a um ritmo assombroso, nomeadamente sob a pressão do crescimento imobiliário, não deixa de ser possível reverter a situação.
Para tanto, torna-se necessário desencadear as mudanças de mentalidade que se impõem para melhorar a vida das pessoas na cidade, sem que para tal seja necessário modificar radicalmente as estruturas actuais da intervenção.
Por um lado, é necessária vontade política; por outro, é conveniente utilizar, de maneira óptima e adequada, os instrumentos (legislativo, técnico, político) existentes com audácia e vontade de agir. Por fim, por serem os mais directamente visados e interessados, torna-se necessário trazer os cidadãos para a discussão da política relativa à implementação e à conservação dos espaços naturais de proximidade para fins de lazer.
Alertar, reivindicar e discutir políticas do ordenamento e da implementação dos novos espaços de lazer junto dos governantes locais é procurar satisfazer algumas das necessidades sobre a falta dos mesmos e afirmar o princípio democrático da contribuição para “construir” (de forma partilhada) o território.

António Mendes Lopes


  
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