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São tantos os atuais 25 de Abril. É preciso escutá-los!

Aqui e ali, de diferentes modos, em meio à crise mais profunda do capitalismo, começamos a ouvir como serão as tantas revoluções de abril que trançamos, aos poucos, cuidadosamente.

O Renascimento e as ciências que criou, superando a ideia de uma única fonte de conhecimento (naquele então, Deus), nos legou a hegemonia de um dos sentidos: o da visão. Os homens – e as poucas mulheres que conseguiam superar os limites sociais a elas impostos – nos legaram a compreensão de que era preciso ver para crer, aproveitando a máxima antiga de S. Tomé.
Os tempos andaram, sonhos foram criados, revoluções foram feitas e chegamos ao momento atual em que tantas são as imagens que começamos a não vê-las ou a vê-las com grandes dificuldades.
Compreendemos, então, que além de ver, precisávamos escutar, tocar, respirar e sentir os novos tempos. Isto porque novas formas de contatos e de expressão foram surgindo, nos fazendo questionar o passado, a partir dele mesmo.
Assim, os jovens – e os nem tão jovens – se reuniram no movimento que foi chamado Occupy Wall Street, dizendo ao mundo que era preciso acabar com aquele sistema. Outros se reúnem na Plaza Mayor, em Madrid, e nos dizem: “vamos devagar porque já tivemos pressa”. Em Portugal, usando frase de Mia Couto, dois jovens mascarados disseram ao mundo – pois sua foto correu na internet – que “há quem tenha medo de que o medo acabe”.
Muitos foram às ruas, na Grécia, para exigir que os assassinos – novos fascistas – de um jovem poeta militante fossem presos e se fizeram escutar.

No Brasil, em especial no Rio de Janeiro, mas não só, o ano de 2013 se tornou um marco na luta pela educação. Professores da rede municipal do Rio de Janeiro entraram em greve e também para a história. O movimento reivindicatório ganha força a partir da onda de protestos que se desenvolveram no Brasil em junho desse mesmo ano, levando à ruas milhões de pessoas. Em 8 de agosto, profissionais da educação entram em greve e vão às ruas para serem escutados.
Mas, reunindo-se, discutindo e indo às ruas, os professores e professoras exigiram melhores condições de trabalho e foram ouvidos pela população: milhares de pessoas compareciam às passeatas; em algumas delas os chamados black blocks, apoiando o movimento, fizeram a segurança.
Uma das mais belas das tantas manifestações ocorreu no dia 20 de setembro, quando foram tomadas as quatro pistas da Avenida Presidente Vargas – principal avenida do centro do Rio de Janeiro – com milhares de pessoas, entre professores do município, da rede estadual e muitas outras pessoas que apoiavam a luta em defesa da escola pública.
Através das chamadas redes sociais, foi possível aparecerem alternativas à mídia tradicional desde as “jornadas de junho”. Por elas, foi possível se fazerem ouvir milhares de vozes diferentes, divulgando cada passo do que estava ocorrendo; por elas ouvimos as tantas versões possíveis de cada passeata e de cada assembleia – era tudo transmitido ao vivo.

Mas, sobretudo, com a contribuição do mundo virtual, foi possível redefinir o poder dos meios de comunicação privados. Desde o início, a quase totalidade da mídia – com ênfase nos telejornais da Rede Globo e jornais impressos do mesmo grupo – adotou um discurso contrário à luta legítima de professores e professoras.
Com ênfase nos prejuízos que a greve trazia aos estudantes, o noticiário dava voz, apenas, ao poder oficial. A grande imprensa escondeu fatos e distorceu outros. Deslegitimar a luta era a missão.
Fracassada pelas condições livres de acesso às mídias alternativas: foi possível se ouvir outras vozes e outras versões dos fatos. Dessa forma, a própria mídia privada, precisou começar a dizer, ainda que ligeiramente, algumas coisas favoráveis ao movimento.
Todas essas vozes, ouvidas em tantas línguas e em tantos ‘espaços/tempos’ do mundo estão nos fazendo ouvir o futuro com suas necessidades e possibilidades. E como Slavoj Zizek disse aos que o ouviam em Wall Street: “Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que queremos. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.”
E aqui e ali, de diferentes modos, em meio à crise mais profunda do capitalismo, começamos a ouvir como serão as tantas revoluções de abril que trançamos, aos poucos, cuidadosamente.

Nilda Alves e Érika Arantes


  
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